Rodovias na UTI

Pesquisa CNT 2014 mostra aumento de pontos críticos e metade dos trechos com pavimento ruim

Estradas / 03 de Dezembro de 2014 / 0 Comentários

BR-251, em Fruta do Leite (MG): caminhões enfrentam buracos na pista

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Uma radiografia das rodovias brasileiras, e o resultado é um país cheio de contrastes. Enquanto parte da malha rodo­viária concedida aparece no topo do ranking das estradas com melhores condições de tráfego, as que estão sob gestão públi­ca ainda têm problemas de sobra na pavimentação e sinalização. É o que mostra a Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) de Rodovias 2014.

MG-050, em Pratápolis: obras exigem atenção dos motoristas

A 18ª edição do diagnóstico avaliou 98.475 km, o que corres­ponde a toda a malha rodoviária federal pavimentada e aos prin­cipais trechos estaduais do país. Durante 30 dias, técnicos e espe­cialistas avaliaram as estradas em regular, ruim, péssimo, bom ou ótimo em relação à existência de buracos, trincas, afundamentos, ondulações, entre outros problemas. O que se constatou foi que a metade do pavimento das rodovias brasileiras, ou seja, 49,9%, tem algum tipo de deficiência. Mais de 44% da extensão está desgastada.

“A situação do sistema rodoviário bra­sileiro continua grave e comprometendo a segurança das pessoas, tanto de motoristas como de passageiros e pedestres. É cada vez maior o número de mortes e de aciden­tes. Essa situação também compromete a logística, devido ao elevado custo do trans­porte, tornando o país menos competitivo”, afirmou o presidente da CNT, Clésio Andra­de, na divulgação dos dados da pesquisa.

BR-474, em Pocrane (MG): parte da pista cedeu e oferece risco aos usuários da via

Na extensão das rodovias considera­das boas ou ótimas, houve uma discreta melhora de 1,7% na comparação com a mesma pesquisa realizada no ano passado. Porém, segundo o coordenador de Estatís­tica e Pesquisa da CNT, Jefferson Cristiano, 62,1% das rodovias analisadas ainda têm algum problema, índice considerado alto. “Tivemos em 2013 quase R$ 12 bilhões autorizados para as estradas para inves­timentos pelo governo federal. Mas só R$ 8 bilhões foram investidos. Encontramos nas estradas muitas curvas perigosas, sem sinalização, pistas simples, grandes trechos com fluxo de automóveis e ausência de acostamento, isso tudo potencializa a ocor­rência de acidentes”, afirmou.

CONCESSÃO

O estudo avaliou o estado geral das ro­dovias de acordo com seu tipo de gestão e constatou que a maior parte dos trechos entregues pelo governo federal ou Estados à iniciativa privada foi classificada como ótimo ou bom. Dos 18.960 km concedidos analisados, 14.061, ou 74,1%, estavam nas melhores condições. Dos trechos que estão sob gestão pública, 23.300 km dos 79.515 km avaliados, ou apenas 29,3%, foram classificados como ótimo ou bom.

BRs 040 e 135, em Sete Lagoas (MG): placas de sinalização estão encobertas pelo mato

Nos últimos anos, o governo federal, por meio da Agência Nacional de Trans­portes Terrestres (ANTT), realizou uma série de leilões de rodovias federais para serem entregues à administração privada. O Programa de Concessão de Rodovias Fe­derais abrange 11.191 km. Alguns foram concedidos recentemente e ainda passam por obras de duplicação e melhoria do pa­vimento.

Para o presidente da CNT, a partici­pação da iniciativa privada é fundamental para a melhoria da infraestrutura do trans­porte. Segundo ele, o governo precisa da parceria para oferecer melhorias na malha rodoviária. “As concessões são um impor­tante caminho para melhorar as condições das rodovias e contribuir para o crescimen­to do país. A situação das rodovias sob ges­tão pública está muito pior em relação às concessionadas”, afirmou Andrade.

Num ranking com 109 ligações rodo­viárias, ou seja, trechos formados por uma ou mais rodovias estaduais e/ou federais, as melhores estão no Estado de São Paulo e todas estão sob comando da iniciativa privada (veja quadro). Na outra ponta, as dez piores são administradas pelo po­der público e estão nos Estados do Tocan­tins e Bahia.

Nossas Rodovias

Das 109 ligações analisadas, veja quais ficaram na ponta positiva e nos últimos lugares


10 MELHORES
Posição Nome Rodovias Classificação Gestão
São Paulo (SP)-Limeira(SP) SP-310/BR-364, SP-348
ótimo
Privada

São Paulo (SP) - Uberaba (MG)

BR-050, SP-330/BR-050

ótimo

Privada

Campinas (SP) - Jacareí (SP)

SP-065, SP-340

ótimo

Privada

São Paulo (SP) - Itaí (SP) -
Espírito Santo do Turvo (SP)

SP-255, SP-280/BR-374

ótimo
Privada

São Paulo (SP) - Taubaté (SP)

SP-070
ótimo
Privada

Bauru (SP) - Itirapina (SP)

SP-225/BR-369
ótimo
Privada

Engenheiro Miller (SP) - Jupiá (SP)

SP-209, SP-300, SP-300/BR-154, SP-300/BR-262

ótimo
Privada

Limeira (SP) - São José do Rio Preto (SP)

SP-310/BR-364, SP-310/BR-456, SP-330/BR-050
ótimo
Privada

Ribeirão Preto (SP) - Borborema (SP)

SP-330/BR-050, SP-333
ótimo
Privada
10º
Rio Claro (SP) - Itapetininga (SP)

SP-127, SP-127/BR-373

ótimo

Privada
10 PIORES
Posição Nome Rodovias Classificação Gestão
109º Natividade (TO) - Barreiras (BA) BA-460, BA-460/BR-242, TO-040, TO-280
ruim
pública
108º
Belém (PA) - Guaraí (TO)

BR-222, PA-150, PA-151, PA-252, PA-287,
PA-447, PA-475, PA-483, TO-336
ruim
pública
107º
Marabá (PA) - Dom Eliseu (PA)

BR-222

ruim

pública
106º
Barracão (PR) - Cascavel (PR)

BR-163, PR-163/BR-163, PR-182/BR-163,
PR-582/BR-163

ruim

pública
105º
São Vicente do Sul (RS) -
Santana do Livramento (RS)

BR-158, RS-241, RS-640
ruim
pública
104º
Jataí (GO) - Piranhas (GO)

BR-158

ruim

pública
103º
Alta Floresta (MT) - Cuiabá (MT)

BR-163, BR-364, MT-320

ruim

pública
102º
Maceió (AL) - Paulo Afonso (BA)

BR-104, BR-110, BR-423, BR-424, PE-177, PE-360
regular
pública
101º
Brasília (DF) - Palmas (TO)

BR-010, DF-345/BR-010, GO-118,
GO-118/BR-010, TO-010, TO-050,
TO-050/BR-010, TO-342

regular

pública
100º
Uberaba (MG) - Barretos (SP)

BR-364, MG-427, SP-326/BR-364
regular
pública

Segundo Jefferson, a CNT entende que essa estratégia de o setor privado gerenciar as rodovias é uma boa alternativa e traz maior eficiência operacional, na gestão de projetos e investimentos, além de diminuir a burocracia. “É uma boa alternativa diante da dificuldade que o governo tem em im­plementar reformas no setor”, afirmou.

BR-242, Paranã (TO): trecho está na lista dos piores, com defeitos graves na pista

ACIDENTES

Dos mais de 98 mil km avaliados, o nú­mero de pontos críticos passou de 250 no ano passado para 289 neste ano. A CNT considera situação crítica quando há queda de barreira, pontes caídas, erosões na pis­ta e buracos grandes, que impedem a livre circulação dos veículos na via. As condições ruins, segundo o presidente da CNT, geram o pior resultado estatístico para as rodo­vias: acidentes e mortes. A pesquisa indicou que em 2013 mor­reram 8.551 pessoas nas estradas brasi­leiras, em cerca de 186 mil acidentes. “As condições gerais ruins das rodovias aumen­tam os riscos e muitas vidas poderiam ser poupadas caso as rodovias oferecessem melhor infraestrutura. Com certeza, seriam 90 mil acidentes a menos e 4 mil mortes a menos”, afirmou Clésio Andrade.

SP-310 e BR-456, Matão (SP): trecho duplicado e pavimento em ótimo estado oferecem mais segurança aos motoristas

E os gastos com acidentes são exor­bitantes no país. Segundo dados coleta­dos pela Agência Brasil, no ano passado, as despesas com batidas nas rodovias foram de R$ 17,7 bilhões. Os recursos dizem respeito ao que impactou o Siste­ma Único de Saúde (SUS) desde o atendi­mento no local até a internação, cirurgias e tratamentos.

INVESTIMENTOS

Antes da divulgação dos dados da pesquisa, a confederação divulgou um plano de transporte e logística que indi­ca ao governo federal a necessidade de investir R$ 293,88 bilhões somente no modal rodoviário. O estudo, no entanto, mostra que foram autorizados para este ano recursos de R$ 11,93 bilhões e, até 30 de agosto, 54,8% desse montante ha­viam sido pagos.

Ao apontar problemas como de si­nalização e geometria, a CNT sugere in­vestimentos nos trechos. De acordo com os dados, 87,1% das rodovias brasileiras pesquisadas são formadas por pistas simples de mão dupla, sendo que 39,9% não têm acostamento. Em 57,4% dos trechos, foi encontrado problema na si­nalização, como falta de placas de limite de velocidade ou pintura desgastada ou inexistente.

BR-135, Joaquim Felício (MG): caminhões enfrentam pista simples em todo o trecho

MEIO AMBIENTE

A pesquisa também mostrou prejuízos para o meio ambiente quando se tem rodo­vias em estado de conservação ruim. A eco­nomia, se as estradas estivessem classificadas como boas ou ótimas, seria de 737 milhões de litros de óleo diesel ou R$ 1,79 bilhão (cálculo feito antes do reajuste anunciado no início de novembro). Em emissão de gases na atmosfera, principalmente o carbônico, a re­dução seria de 1,96 milhão de toneladas

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