Mistura ampliada
Percentual de biodiesel no diesel passa de 14% para 15%. Governo defende avanço, mas entidades manifestam preocupação.

MME aposta na construção de uma matriz de transporte mais limpa e sustentável com o B15
Avanço na descarbonização do transporte pesado. Foi assim que o governo federal definiu o aumento do percentual de biodiesel no diesel de 14% para 15% (o chamado B15). A medida foi aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) recentemente e entrou em vigor em 1º de agosto. Na mesma ocasião, também foi ampliada a mistura obrigatória de etanol na gasolina, passando de 27% para 30% (E30).
A decisão foi tomada durante uma reunião no Ministério de Minas e Energia (MME), liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) junto ao titular da pasta, Alexandre Silveira, e demais ministros que compõem o colegiado. O chefe do Executivo afirmou que as mudanças representam o caminho que o país deve seguir.
“A política de biocombustíveis é, para nós, um modelo com o qual ninguém vai conseguir competir. O Brasil deu uma chance. Eu queria que vocês compreendessem que estamos tentando fazer o possível para esse país mudar de patamar”, disse o presidente da República.
Na avaliação do MME, a implementação do B15 e do E30 diminui a dependência de combustíveis fósseis e, consequentemente, a necessidade de importações, sobretudo no cenário atual de incertezas no mercado mundial. Outras vantagens listadas pelo ministério são a ampliação do uso de combustíveis renováveis, o fortalecimento da produção nacional, a redução de emissões e o desenvolvimento econômico.
“Estamos avançando com segurança no E30 e no B15 em nossos veículos. Estamos vencendo a batalha do preço dos combustíveis para mantê-los cada vez mais baratos na bomba para o consumidor brasileiro. Isso é fundamental para manter o círculo virtuoso da economia por meio do combate à inflação”, ressaltou o ministro Alexandre da Silveira.
No caso específico do aumento do percentual de biodiesel no diesel, direcionado a um dos setores mais desafiadores na redução de emissões de gases de efeito estufa, o ministério destacou que a medida reforça o papel estratégico dos biocombustíveis na construção de uma matriz de transporte mais limpa e sustentável.
CONTRAPONTO
Se, por um lado, o governo federal exaltou os benefícios da adoção do B15, por outro a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) manifestou preocupação com a medida, que, de acordo com a entidade, “desconsidera os diversos alertas e as evidências técnicas apresentadas pelo setor de transporte rodoviário de cargas ao longo dos últimos meses”.
Segundo a NTC&Logística, o aumento do percentual de biodiesel traz impactos negativos em diversos aspectos técnicos, operacionais e econômicos. Entre eles a associação destaca: “Desde a elevação da mistura para 14%, em março de 2024, empresas de transporte vêm relatando problemas recorrentes, como o aumento expressivo dos custos de manutenção. Estudo técnico da própria NTC&Logística aponta que o prazo de troca de filtros de combustível foi reduzido pela metade, resultando em um aumento de mais de 7% nos custos de manutenção por veículo e em um impacto superior a 0,5% no custo total das operações. Em frotas com cem veículos, isso representa, ao longo de um ano, o equivalente ao valor de um caminhão novo”.
A entidade pondera ainda que análises feitas pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostram que o biodiesel produzido no país apresenta instabilidades, inclusive com casos de contaminação já no momento da chegada às distribuidoras, ocasionando obstrução de filtros, falhas mecânicas e aumento do risco de panes durante as viagens.
Em um comunicado, a associação afirmou que vai continuar atuando de forma firme e responsável para defender os interesses do setor. “A entidade seguirá cobrando que futuras decisões sobre a política de biocombustíveis sejam precedidas de estudos técnicos aprofundados, com a participação efetiva dos setores diretamente impactados”, finalizou a NTC&Logística.
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