Pioneirismo em favor do transportador, do meio ambiente e da sociedade
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A- A A+Instituições se unem para implementar o primeiro Centro de Reciclagem de Veículos do Brasil; Igarapé sediará o projeto inovador idealizado pela Sada e contando com a parceria do Sintrauto
ustentabilidade financeira e socioambiental é premissa de um projeto inovador: o Centro de Reciclagem de Veículos (CRV). Seu objetivo é criar um ecossistema produtivo e pioneiro no Brasil que prevê retorno econômico e socioambiental por meio do incentivo à renovação da frota e, consequentemente, do aumento de vendas, da geração de emprego e renda e da redução da emissão de poluentes. Inspirado em experiências internacionais, o projeto oferece uma compensação de tributos estaduais e federais, na forma de incentivos, ao comprador de um veículo novo que entregar para reciclagem o usado com mais de 20 anos.
A proposta é implementar o CRV na Zona de Empreendimentos Sustentáveis (ZES) em Igarapé, que abriga o pátio logístico da Sada e de outras empresas do setor de transporte. Com o novo projeto, estarão reunidas em um único ambiente as atividades de processamento de veículos, de reaproveitamento de equipamentos e insumos desses veículos, balança para veículos de até 30m, meios de aferição volumétrica e instituições como a Receita Federal, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, para a fiscalização do CRV e a emissão dos créditos ao consumidor. “Estou, desde julho deste ano, atualizando estudo que iniciamos na década de 1990 e, agora, levamos em consideração experiências de outros países e novas tecnologias. A reciclagem faz parte do futuro do Brasil, como acontece em outras nações mais desenvolvidas, como nos Estados Unidos e na Europa. Aqui, podemos fazer até mais e implantar um sistema ambientalmente melhor e mais eficiente do que em qualquer outro continente. Tenho certeza disso e de que todos entenderão que nossa saída social e econômica se dará na conversão de métodos ambientalmente nocivos para virtuosos. Nosso setor de transporte e logística está na ponta mundial. Conheço o que acontece no mundo, e aqui nós conseguimos recuperar o atraso e ganhar a dianteira com uma tecnologia inovadora nacional e com a importante contribuição do trabalhador brasileiro”, enfatiza Vittorio Medioli, presidente do grupo Sada – instituição responsável pelo projeto e pelos estudos técnicos.
PARCEIROS
Para empreender a ideia, foram chamadas instituições que representam o setor de transporte. Na opinião do presidente do grupo Sada, o Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais (Sintrauto) e o Sindicato Nacional dos Cegonheiros (Sindicam) foram parceiros fundamentais para que o projeto chegasse a Brasília recebendo a atenção e a adesão de entidades como a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação Nacional de Transportes (CNT) e de outras instituições que defendem a reativação do mercado com a geração de emprego e renda. “Contamos também com o apoio do governo de Minas Gerais, por meio do Instituto de Desenvolvimento Integrado (INDI), das prefeituras de Igarapé e de São Bernardo do Campo, da Anfavea – com a qual trocamos informações e estudos –, dos sindicatos dos cegonheiros de São Paulo e do Paraná, do Sindipeças, e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que indicou o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para acompanhar os estudos. É um esforço de todos, e não interesse de um ou de outro”, reconhece Medioli.
A multiplicidade de olhares contribuiu para a elaboração de um projeto viável e de relevância socioeconômica. Cada ator estratégico colaborou. Por exemplo, nos entendimentos com os sindicatos de cegonheiros, foi definida a forma mais adequada para a coleta de veículos usados em todo o país, aproveitando-se os retornos das cegonhas. Para Medioli, o esforço das lideranças do setor de transporte promoveu uma valorização da área que, além de buscar a excelência na prestação de serviços, passou a ser vista como parceira de montadoras e do setor de autopeças. Também foi oportunidade para criar novos canais políticos para suas demandas.
Nesse sentido, os trabalhos avançam no âmbito legislativo. Em setembro, foram realizadas apresentações do projeto e discussões conduzidas pelo presidente do Sintrauto, Carlos Roesel, pelo presidente do Sindicam, José Ronaldo Marques da Silva, e pelo empresário Vittorio Medioli. Esses encontros contaram com diversos representantes de instituições que aderiram ao projeto, e esse chegou ao gabinete do ministro-chefe da Secretaria da Presidência da República do Brasil, Miguel Rosseto. Agora, o objetivo é entregar à presidenta do país, Dilma Rousseff, a versão final da proposta. Segundo Medioli, a implantação do CRV depende da edição de uma medida provisória (MP): “Tem-se que alterar a legislação, mas é possível concluir todo o processo em até nove meses. É muito importante o apoio do governo do Estado de Minas Gerais, assim como o do de São Paulo, para a montagem do centro de reciclagem”. O projeto demandará investimentos de aproximadamente R$ 90 milhões.
INTELIGÊNCIA LOGÍSTICA
Sem dúvida, um dos diferenciais da proposta é a inteligência logística. O projeto colocará à disposição do Plano de Renovação o potencial de operações do transporte de automóveis para recolher em todo o Brasil os veículos antigos e trazê-los ao Centro. Dessa forma, serão destruídos, e a matéria-prima residual, destinada a fundições de aço, alumínio, cobre, vidros e plástico. No CRV, a Sada, em Minas Gerais, e um pool de empresas de logística em São Bernardo do Campo se ofereceram para, além de trazerem de volta os veículos obsoletos com mais de 25 anos, destiná-los respeitando as premissas ambientais e possibilitando aos proprietários um desconto na compra de um novo. As montadoras disponibilizarão, por meio de sua rede de revendas, o bônus de desconto de R$ 6.900 na venda de veículo novo até 1,4 de cilindrada ao receberem um veículo reciclável acima de 1,4 de cilindrada e R$ 8.900.
Mensalmente, será creditado o montante dos descontos concedidos aos consumidores na guia de recolhimento de tributos federais. O valor de R$ 6.900 garante à União a manutenção de arrecadação, visto que veículos novos objeto da venda integram os tributos e contribuições do nível atual. Os Estados também serão beneficiados por acréscimos de arrecadação do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
O projeto ainda propõe, com o apoio dos cegonheiros de Minas e São Paulo, a cobrança de um frete único nacional para se retornar, sem desvio de rota, de qualquer localidade do Brasil até o ponto de saída dos veículos novos. “Seria o suficiente para acrescentar para os cegonheiros uma receita anual de R$ 200 milhões. Mais do que isso, possibilitaria aquecer o mercado e transportar 1 milhão de novos veículos para todo o Brasil. Além disso, com 980 mil carros e caminhões novos, a receita anual dos cegonheiros aumentaria em torno de R$ 800 milhões”, calcula Mediolli.
BENEFÍCIOS A TODOS
O aumento na produção de, por exemplo, 1,2 milhão de veículos pode gerar 120 mil empregos em autopeças e montadoras e 940 mil empregos indiretos. Por consequência, as arrecadações federal e estadual também apresentariam aumento expressivo à medida que o incentivo não excederia o valor dos tributos gerados na operação e induziria receita na cadeia produtiva. Segundo cálculos realizados pela equipe do projeto, o crescimento na arrecadação da seguridade social seria de cerca de R$ 5 bilhões e os gastos com salário-desemprego seriam reduzidos em R$ 1,4 bilhão.
Os benefícios da renovação da frota são tangíveis para o transportador, para o meio ambiente e para a sociedade. Veículos mais novos têm menos gastos em manutenção, são mais seguros, oferecem melhores condições de trabalho aos motoristas e possuem tecnologia para amenizar o impacto à natureza. Caminhões antigos emitem gás carbono 50 vezes mais do que os recentemente produzidos e oferecem mais risco de acidentes no trânsito.
O processo de reciclagem é capaz de proporcionar ainda economia, por ano, na extração de 2 milhões de toneladas de minérios ferrosos, de 120 mil toneladas de não ferrosos, de 40 mil toneladas de borracha, de 100 mil toneladas de lubrificantes recuperados, bem como a despoluição de áreas urbanas com a retirada de 1 milhão de carcaças, o redirecionamento de 2 milhões de m3 de biocombustíveis e a possibilidade de redução de locais propícios à proliferação do mosquito da dengue , uma vez que o acúmulo de água parada em veículos obsoletos será minimizado.
O Centro terá a capacidade de processamento de até 100 veículos recicláveis/hora ou 500 mil por ano, e a montadora controlará o fluxo financeiro diretamente. A proposta elaborada pela Sada visa atender a todo o país com um sistema integrado entre montadoras, revendas e sindicatos. “O custo logístico elevado e a dificuldade para a destinação dos resíduos sempre foram apontados por esses setores como os maiores entraves para a implementação de um programa de reciclagem. Entretanto, a proposta é que o mesmo caminhão que vai levar o carro zero volte com os usados e os leve para o centro de reciclagem. Para isso, criamos um frete único, oferecendo uma solução competitiva”, explica Medioli.
De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), caminhões com mais de 25 anos de uso no Brasil atingem a marca de mais de 1 milhão, sendo que, em Minas, são cerca de 150 mil.
INSPIRAÇÃO
Alinhado às tendências mundiais, o Centro foi inspirado em experiências internacionais. Nos Estados Unidos, o governo, em parceria com a associação dos recicladores, implementou, em 2009, o programa Cars (Car Allowance Rebate System – apelidado de “Cash for Clunkers” – tradução livre: dinheiro por sucata) com o objetivo de incentivar a substituição dos veículos antigos por novos e menos poluidores. Em três meses, registraram-se o aumento de vendas em 14,6% e a economia de combustível total de 4,6%.
Desde 2000, a Europa estabelece diretrizes para automóveis e caminhões no fim de sua vida útil. Determina metas para o descarte de até 85% dos veículos, sendo que, a partir do próximo ano, esse
percentual passa para 95%. Essas diretrizes incentivam os fabricantes de veículos e de componentes a desenharem produtos levando em conta sua reutilização e a reciclagem. A legislação também restringe o uso de substâncias específicas, inclusive chumbo, mercúrio, cádmio, cromo (VI) e, em
certos casos, retardantes de chama bromados, tais como éter difenílico polibromado (PBDE) e bifenilos polibromados (PBB).
“A inspiração internacional, alinhada à nossa experiência e à nossa vontade de desenvolver cada vez mais o transporte rodoviário de cargas, vai gerar melhorias para toda a cadeia produtiva. Para o Sindicato dos Cegonheiros, é uma oportunidade profícua participar desse projeto, que tem viabilidade financeira e oferece benefícios ao meio ambiente, à sociedade e ao profissional do transporte. Acreditamos que é dessa forma que nossa instituição legitima sua atuação e colabora para que nossos associados aprimorem seu trabalho e sejam reconhecidos como exemplos de responsabilidade e atores essenciais para o crescimento do país”, orgulha-se o presidente do Sintrauto, Carlos Roesel.
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