Em menos de três meses, o número de casos prováveis de dengue no Brasil em 2024 (1,68 milhão) já supera o total confirmado em todo o ano passado (1,66 milhão), conforme registrado pelo Ministério da Saúde no Painel de Monitoramento de Arboviroses.
No confronto entre períodos iguais - considerando somente os primeiros meses do ano -, o saldo atual é cinco vezes maior que o do ano anterior. E as mulheres são a maioria das vítimas desta vez: 55% dos pacientes acometidos. Os maiores registros de dengue estão no Distrito Federal, em Minas Gerais e no Espírito Santo. Por outro lado, Maranhão, Pernambuco e Piauí têm os números mais baixos de casos.
Comportamento
No tocante à distribuição geográfica, o pesquisador Christovam Barcellos, do Observatório de Clima e Saúde, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), constatou que a arbovirose transmitida pelo mosquito Aedes aegypti vem se espalhando para as regiões Sul e Centro-Oeste do país, o que era incomum.
Em seus estudos, Barcellos verificou uma relação entre fortes ondas de calor em 2023 e maior incidência da dengue neste ano. “Esses mapas eram muito parecidos. A gente colocou os históricos de dengue de 2000 até 2020 em uma máquina, ou mineração de dados, e viu a coincidência de períodos desses indicadores de temperatura. Chamaram a atenção dois fatores importantes: a altitude e essas anomalias de temperatura”, explica.
Segundo o pesquisador, na região Central do país, os picos de calor foram superiores a três dias no Cerrado, que abrange o Oeste de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, os Estados de Goiás e Rio Grande do Sul e grande parte de Minas Gerais. “A gente resumiu como se fosse uma frequência de anomalias de temperatura, e é nessas áreas que está explodindo a dengue neste verão. Mas isso já vem acontecendo como tendência desde 2020”, diz Barcellos.
O especialista ressalta que essas não eram áreas de alta incidência da doença. Nelas, costumava haver cinco dias de anomalia de calor, mas, agora, ocorrem de 20 a 30 dias ao longo do verão, o que dispara o processo de transmissão da dengue, tanto por causa do mosquito quanto pela circulação de pessoas.
Atenção
Diante do avanço acelerado da doença, é importante estar atento aos sinais e entender alguns mitos acerca da arbovirose. A forma grave da patologia é marcada pela queda no número de plaquetas, que são células que auxiliam na coagulação do sangue, e, embora ainda seja popularmente chamada de dengue hemorrágica, o termo deixou de ser usado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2009 porque a hemorragia propriamente dita nem sempre está presente.
Hoje, a distinção entre os quadros se resume a dengue e dengue grave. Os pacientes sem gravidade são divididos entre os que apresentam e os que não apresentam sinais de alerta. Já aqueles que desenvolvem a dengue grave podem ter vazamento de plasma ou acúmulo de líquidos, levando a choque ou dificuldade respiratória. Podem ocorrer ainda sangramento grave e comprometimento de órgãos como fígado e até mesmo o coração.
Riscos
Alguns casos podem ser agravados em razão de condutas erradas. Não é à toa que alguns medicamentos devem ser evitados em caso de suspeita de dengue. Estão nessa lista salicilatos, a exemplo do ácido acetilsalicílico (ou AAS, conhecido como aspirina) e anti-inflamatórios como ibuprofeno, diclofenaco, piroxicam, prednisona, prednisolona, dexametasona e hidrocortisona.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alberto Chebabo, como a dengue é uma doença viral para a qual não existe medicamento, trata-se o efeito, e não a causa. O tratamento básico inclui analgésico, antitérmico e, eventualmente, medicação para vômito. Os principais sintomas são febre, vômito, dor de cabeça, dor no corpo e aparecimento de lesões avermelhadas na pele. (Com a Agência Brasil)