O Brasil demorou 13 anos para reduzir em 40% a quantidade de pessoas fumantes. E, em poucos anos, viu uma nova forma de consumo se espalhar principalmente entre a população mais jovem, deixando em alerta autoridades de saúde e também as famílias. O uso do cigarro eletrônico teve aumento de 600% nos últimos seis anos, segundo dados da Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), mesmo tendo a venda proibida no país.
Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) são diferentes equipamentos e envolvem tecnologias e formatos diversificados. Segundo informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), há a apresentação do cigarro eletrônico descartável, mas a maioria usa bateria recarregável e refis. Eles geram o aquecimento de um líquido para criar aerossóis, - vapor - e o usuário inala o vapor. Por isso, eles são conhecidos como vape.
Recentemente, o pediatra Daniel Becker usou suas redes sociais, onde tem mais de 1 milhão de seguidores, para alertar as famílias. Ele disse que o vape vem em formas “divertidas” e é apresentado em diversos sabores exatamente para envolver e encantar desde adolescentes até adultos.
“O vape vicia em apenas três meses porque ele tem uma carga de nicotina muito maior que o cigarro comum e não possui a fumaça, fazendo com que a pessoa fume diversas vezes ao dia. A carga de nicotina do vape pode ser cem vezes maior. Crianças e adolescentes estão com os pulmões de pessoas com 50 anos que fumaram a vida inteira”, comparou o médico.
Ele alertou que o cigarro eletrônico tem atingido idades cada vez mais baixas.
Além da intoxicação imediata, outro problema, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), é que os jovens que usam cigarros eletrônicos têm duas vezes mais chances de se tornarem fumantes na vida adulta. “O uso de vape pode aumentar o risco de doenças cardíacas e distúrbios pulmonares. Além disso, a exposição à nicotina em mulheres grávidas pode afetar negativamente o desenvolvimento cerebral do feto”, informou a Opas em nota.
No Brasil, a venda do cigarro eletrônico é totalmente proibida, e, recentemente, a Anvisa iniciou uma consulta pública sobre a manutenção da proibição de fabricação, importação, comercialização, distribuição, armazenamento, transporte, publicidade e divulgação desses produtos. A questão é se continua a proibição ou abre para a regulamentação, como defendem alguns especialistas, alegando que, nesse caso, haveria regras no setor.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBTP) emitiu posicionamento no ano passado em que afirma ver com preocupação o aumento do uso desses dispositivos, em especial entre os jovens. “A SBTP se posiciona veementemente contra a liberação da comercialização, da importação e de propagandas de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar. Eles são uma ameaça à saúde pública porque representam uma combinação de riscos: os já conhecidos efeitos danosos à saúde e o aumento progressivo do uso no país. Em especial, esses dispositivos atraem pessoas que nunca fumaram, persuadidas pelos aromas agradáveis, pelos sabores variados, pela novidade tecnológica e pelas estigmas de liberdade”, afirmou em seu posicionamento a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
De acordo com a Associação Médica Brasileira, os cigarros eletrônicos têm nicotina na forma líquida, com forte poder aditivo, ao lado de solventes (propilenoglicol ou glicerol), água, flavorizantes (cerca de 16 mil tipos), aromatizantes e substâncias destinadas a produzir um vapor suave para facilitar a tragada e a absorção pelo trato respiratório.
“Foram identificadas centenas de substâncias nos aerossóis, sendo muitas delas tóxicas e cancerígenas”, informou a AMB. A associação acrescentou afirmando que cada refil do cigarro eletrônico contém 0,7 mililitro de nicotina líquida, possibilitando 200 tragadas, ou seja, 20 cigarros convencionais. (Com a Agência Brasil)