2015 marcou a história

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Capa / 18 de Dezembro de 2015 / 0 Comentários
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Entrevias conversou com representantes do transporte rodoviário de cargas, que apresentaram o balanço do setor e perspectivas para 2016

Instabilidade política, crise financeira, novas leis e desafios ainda maiores. Sem dúvida, este ano não passará ileso e 2016 se anuncia como um período de adversidades. São essas as percepções dos convidados que participaram desta reportagem para avaliarem as atividades do transporte rodoviário de cargas no país em 2015.


A visão é corroborada pelos resultados da Sondagem Expectativas Econômicas do Transportador 2015. Nesse levantamento realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), 54% dos entrevistados disseram que deverão ter redução da receita bruta na comparação com 2014. “A incerteza nas áreas política e econômica fez com que os resultados não correspondessem às expectativas. O impacto negativo no setor do transporte somente é evidente, pois nossa atividade é diretamente ligada à produção de bens. Contudo, avalio que somos uma categoria forte, a​ltamente profissionalizada e, por isso, conseguimos minimizar mais consequências”, analisa o presidente do Sindicato dos Cegonheiros do Estado de Minas Gerais (Sintrauto), Carlos Roesel.

O desempenho das empresas foi afetado pelas condições econômicas atuais, de forma que a maioria dos entrevistados no estudo (55,9%) revela que terminará o ano de 2015 com uma receita bruta menor do que a verificada em 2014. Essa queda está relacionada à redução do número de viagens (para 53,5% dos entrevistados) e do volume de cargas transportadas (para 56,9%).
O fraco desempenho econômico e a retração da demanda dos setores produtivos​ têm levado a maior parte dos transportadores ouvidos na Sondagem a reduzir em seus quadros de funcionários. Enquanto 53,7% dos transportadores afirmaram ter contratado novos funcionários neste ano, 80% deles informaram ter demitido apesar das contratações. Por outro lado, 36,4% dos entrevistados declararam ter reduzido o número de transportadores autônomos agregados (TAC-agregado) nos últimos seis meses. Entretanto, 43,6% acreditam que reduzirão a contratação de TAC-agregados até o fim de 2015 em relação a 2014.

A expectativa da maioria dos transportadores rodoviários sondados é a de que o Produto Interno Bruto (PIB) caia em 2015 e que a inflação, a taxa de juros e a taxa de câmbio permaneçam acima do fechamento de 2014.​

GESTÃO DA MÁQUINA PÚBLICA
Na opinião do presidente da Associação Baiana dos Caminhoneiros e Transportadores, Lucimar Sousa, a crise política no Brasil agravou a economia. “Ambas devem caminhar em sintonia. Espero que os governantes centrem esforços no país, e não em objetivos pessoais, pois temos um país robusto”.

Em relação à produtividade das empresas de transporte rodoviário de cargas, 59,3% dos entrevistados indicam que houve redução em 2015 quando comparado a 2014. Um dos fatores mais citados na pesquisa que comprometeram a produtividade do segmento foi a crise política-econômica.

Consequentemente, a maioria (86%) dos transportadores entrevistados não confia na gestão econômica do governo federal. De acordo com as respostas, somente 0,4% dos transportadores sondados depositam um elevado grau de confiança na gestão econômica do governo, enquanto 86% revelam confiar pouco na mesma gestão.

Para 84% dos entrevistados, a convicção na capacidade de o governo federal gerir a economia do país foi reduzida desde 2014. Quando questionados sobre o ajuste fiscal, 77,2% dos empresários afirmam não concordar com ele, sendo que 91,3% do setor acredita que as medidas do ajuste fiscal são insuficientes para garantir que o país cresça novamente. “A desaprovação das medidas de ajuste fiscal está relacionada com o fato de o setor transportador ter sido um dos mais atingidos pelas mudanças aprovadas pelo governo federal em 2015. Além da elevação da taxa de juros para financiamento do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), o transportador foi penalizado com o aumento da carga tributária referente à contribuição previdenciária (que entrará em vigor em dezembro de 2015) e a elevação das alíquotas de PIS, Cofins e Cide - combustíveis incidentes sobre o diesel e a gasolina”, diz o relatório da Sondagem.

CONTA DIFÍCIL DE FECHAR
Bem como a alta carga tributária, há outros vilões do desempenho deste ano para o transporte rodoviário de cargas: os custos operacionais, principalmente motivados pelo alto valor do diesel e pela baixa rentabilidade na prestação de serviço.

O presidente da Associação Particular de Ajuda ao Colega (Apac) Sul, Marcio Arantes, conta que, neste ano, observou uma redução de mais de 10% no faturamento das transportadoras. “Para alcançarmos esse resultado, o trabalho foi exorbitante. Atuamos mais no setor supermercadista, e foi expressiva a queda da atividade. As pessoas diminuíram as compras. Tivemos um consumismo nos últimos anos, e, em 2015, os carrinhos reduziram de forma considerável. Observamos ainda pátios de chamadas vazios, pois muitos transportadores não aguentaram. Houve um investimento de compra de caminhões por quem não era do setor, e acredito que essas pessoas foram mais impactadas”, analisa.

Corroborando, o presidente da Cooperativa dos Transportadores de Automóveis e de Consumo do Estado de Minas Gerais (Coopercemg), José Geraldo de Farias, enfatiza as dificuldades enfrentadas neste ano. “A redução da atividade econômica interferiu fortemente no setor. Rodamos menos, mas trabalhamos mais para segurar as contas”.

De acordo com a Sondagem, para 69,9% dos transportadores entrevistados, a receita bruta será apenas mantida ou mesmo reduzida em 2016, refletindo a manutenção ou a redução do número de viagens, do volume de cargas e da abrangência geográfica. Por sua vez, essa conjuntura tende a reduzir ou manter a contratação formal de mão de obra, o tamanho da frota e as instalações físicas, o que é esperado por 82,1%, 79,9% e 86,5%, respectivamente, dos empresários sondados.

Pontua o estudo: “um dos pontos mais preocupantes é o possível aumento de custos de insumos em um ambiente de reduzida demanda de dificuldade de ajustes nos preços dos serviços de transporte devido aos custos adicionais. Com a perspectiva de inflação elevada e de taxa de câmbio desvalorizada, espera-se que todos os insumos apresentem variações positivas em seus preços, o que poderá comprometer a viabilidade financeira de operação de diversas empresas de transporte, sobretudo aquelas de menor porte”.

A inadequação da infraestrutura também foi apresentada como entrave. Alinhada ao cenário da estrutura rodoviária brasleira, a quantidade das vias é considerada insuficiente para a maioria dos empresários (65,9%). Mais de 35% dos entrevistados temem a piora da qualidade das vias, e 21,5%, mais otimistas, ainda acreditam que é possível promover a melhoria da infraestrutura de transporte brasileira no próximo ano.

DIFÍCIL, MAS NÃO PERDIDO
As conversas com os transportadores e os dados refletem a dificuldade do ano que termina. Mas pontos positivos compõem o balanço. A sanção da Lei 13.103 – conhecida como a Lei dos Caminhoneiros –, que estabelece diretrizes para o exercício da profissão, foi reconhecida como um avanço. “Essa legislação legitima o setor e consolida uma luta de anos. Contudo, ainda há muito o que se fazer para ela ser totalmente implementada”, pontua o presidente da Associação de Prevenção de Acidentes e de Assistência aos Amigos e Cooperados da Coopercemg (Apacoop), Rogério Batista do Carmo.

Dentre as modificações, destacam os entrevistados: o aumento da tolerância de peso dos veículos (PBT e eixos), a nova jornada diária e o período de descanso. A Sondagem 2015 apurou que 57,7% das empresas aprovam o aumento da tolerância de sobrepeso dos veículos, 75,3% aprovam o limite máximo para trabalho ininterrupto, e 71,5% são a favor do descanso mínimo e ininterrupto. As últimas duas variáveis estão relacionadas à saúde do condutor, que tende a ter seus níveis de fadiga e estresse reduzidos se respeitada a lei e, também, ao aumento de segurança no que diz respeito à prevenção de acidentes.

Outro ponto dessa lei é a definição de requisitos para se oferecerem parâmetros mínimos da cobrança do frete. Os empresários sondados mostraram-se divididos quanto aos possíveis benefícios que uma tabela de frete mínimo poderia gerar, de forma que 46,8% não acreditam em benefícios potenciais e 49,2% creem que sim, o segmento poderia ganhar com uma definição.

A obrigatoriedade do uso da tabela de frete mínimo não foi acatada pelo governo federal. No entanto, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) publicou a Resolução 4.810/2015, que estabelece regras para a apuração dos custos de transporte e disponibiliza uma tabela de custos mínimos cujo objetivo é se transformar em uma referência para a livre negociação de fretes.

PERSPECTIVAS
“Foi um ano de aprendizado, em que tivemos que rever a nossa forma de atuar e as condições dos negócios. Na crise, tire o ‘s’ e crie. Esses momentos fazem com que sejamos mais acurados e criativos. Continuemos no trabalho árduo, sem deixarmos nos abater. Enfrentamos períodos difíceis e vamos superar os desafios no próximo ano, qualificando-nos e nos tornando ainda mais fortes”, enfatiza, otimista, Raimundo Luiz Fernandes, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Centro-Oeste Mineiro (Setcom) e da Casa do Rotariano em Contagem. Ele acrescenta que é fundamental aumentar a governança dos negócios, acompanhando de perto os contas, o valor da prestação de serviços e novos investimentos.

Em 2016, as expectativas melhoram na opinião dos empresários, de maneira que 17,3% esperam aumentar o número desses profissionais em suas empresas. Esses resultados se relacionam com o acréscimo esperado, em 2016, do número de viagens para 29,3% dos transportadores e do volume de cargas para 29,0% deles.

Assim, para 69,9% dos transportadores entrevistados, a receita bruta será apenas mantida ou mesmo reduzida em 2016, refletindo a manutenção ou a redução do número de viagens, do volume de cargas e da abrangência geográfica. Por sua vez, essa conjuntura tende a diminuir ou a manter a contratação formal de mão de obra, o tamanho da frota e as instalações físicas, o que é esperado por 82,1%, 79,9% e 86,5%, respectivamente, dos empresários sondados.
Segundo o estudo, “um dos pontos mais preocupantes é o possível aumento de custos de insumos em um ambiente de reduzida demanda e de dificuldade de ajustes nos preços dos serviços de transporte devido aos custos adicionais. Com a perspectiva de inflação elevada e de taxa de câmbio desvalorizada, espera-se que todos os insumos apresentem variações positivas em seus preços, o que poderá comprometer a viabilidade financeira de operação de diversas empresas de transporte, principalmente aquelas de menor porte”.

A perspectiva para 2016 é a de manutenção do desempenho do PIB, com o agravamento dos indicadores de inflação, da taxa de juros, do câmbio e da carga tributária. Como consequência, 50,8% dos transportadores entrevistados esperam perceber a retomada do crescimento econômico somente em 2017; 18,9% deles, em 2018; e 13,0%, a partir de 2019.

Para o presidente da CNT, Clésio Andrade, é necessário implementar estratégias eficazes para que o país retome o crescimento econômico e contorne os efeitos da crise. “Investir em infraestrutura de transporte e diminuir a carga tributária e a burocracia são algumas das medidas mais urgentes.
Com essas ações, reduziremos custos logísticos, proporcionaremos o aumento da competitividade
e mostraremos à sociedade que o setor transportador pode dar um grande impulso para a retomada do crescimento”.

Os desafios não retiram o otimismo de Carlos Roesel: “Não podemos viver em uma perspectiva pessimista. Trabalhamos com risco. Se formos negativos, não saíremos do lugar. O trabalho conjunto é a essência para se fazer a diferença. Como representante do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais, tenho um longo trabalho pela frente. Acredito que ótimas mudanças estão por vir”.


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