Um anjo na BR-381

João Greco, 76, dono do restaurante Casa Branca, é adorado por motoristas e funcionários

Homenagem / 08 de Maio de 2014 / 19 Comentários

João é muito querido pelos estradeiros, conhecido pela boa comida, bons conselhos e solidariedade

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O nome Casa Branca foi escolhido pela caçula de uma grande família quando tinha apenas 6 anos de idade. Aprovado imediatamente, remetia ao nome de uma loja de tecidos na Rua dos Caetés esquina com Espírito Santo, no Centro de Belo Horizonte, onde João Greco, 76, trabalhou pela primeira vez, ainda moço. Bateu uma saudade daquele tempo e a escolha da filha para o restaurante na BR-381 foi logo acatada pelos parentes.

O restaurante foi instalado inicialmente numa casinha pequena, no KM 558, depois de Igarapé, na Fernão Dias. A varanda da frente servia para colocar mesas, mas sempre com um peso em cima delas por causa da ventania na área descampada. Era muita poeira. Foi aberto em 1984 e nunca mais fechou. Os fregueses, muitos deles, ainda são daquela época, fiéis.

João começou na estrada em 1975 e tem muitos amigos desses anos em que trabalhou na churrascaria Rincão Gaúcho, 5 km abaixo de onde é hoje o Casa Branca. “Cheguei sem dinheiro algum e peguei a prática. Uma luta boa”, diz sobre todo o caminho que o levou ao seu próprio restaurante e, com ele, criar todos os filhos.

Ainda hoje João se levanta às 4h45, arruma-se e vai buscar os funcionários. Abre as portas do restaurante às 6h. Um dos filhos gerencia o restaurante à noite. “Não consigo ficar em casa, sinto falta do trabalho. Não é por dinheiro, é o ambiente, a amizade que me faz falta”, conta.

São 37 funcionários que, segundo João, têm com a família um bom relacionamento. “Não adianta só a gente querer ganhar dinheiro, não resolve nada. É preciso ter respeito recíproco. É uma família grande”, diz. Grande não, João, enorme. Ele conta que, além dos filhos e funcionários, tem vários fregueses que o chamam de pai. “Alguns começaram na estrada aos 17 anos e estão aí até hoje, já são médicos, com suas crianças, todos passam por aqui. O bom da vida é isso aí. Esse é o meu patrimônio”, completou.

João Greco é casado com Ilda Greco Pacheco, 72. Juntos há 52 anos, têm cinco filhos, oito netos e um bisneto. “Trabalhamos unidos, eu, minha esposa, quatro filhos e quatro netos”, conta. Uma vez por mês, Ilda vai ao restaurante ver os funcionários, trocar ideias. É o lugar onde trabalhou durante muitos anos. Hoje, fica mais em casa, de onde coordena e administra tudo.

BOA AÇÃO

João é conhecido entre os profissionais da estrada por sua gentileza e boas ações. Em pouco tempo de entrevista, por ter muito trabalho a fazer no restaurante, disse frases que são verdadeiras lições. “Quando buscamos fazer ao outro o que gostaríamos que nos fizessem, naturalmente, temos uma contrapartida. Conhecer as reais necessidades dos caminhoneiros é fundamental. Devemos sempre ser verdadeiros e sinceros em nossas ações.”

Na rodovia, é conhecido pela bondade, mas apenas sente que cumpre seu dever. “Quando procuramos cumprir com todos os nossos deveres, estamos apenas cumprindo com a nossa parte. Que a mão esquerda não saiba o que a outra fez. Isso já nos traz muita alegria, sentir a satisfação do outro é a verdadeira recompensa”, diz. 

Quem é seu mestre ou quem o ensinou tantas lições? Jesus, responde. “Na nossa caminhada evolutiva, vamos sempre aprendendo. A cada passagem pela Terra estaremos burilando pequenas partes de nossa personalidade. Atualmente estamos treinando a afeição para um dia podermos amar. Nosso modelo e guia é Jesus, Mestre incomparável.”

“MESMO SEM ME CONHECER, ELE SE DISPÔS A ME AJUDAR”

“Não conhecia o João Greco pessoalmente. Na verdade, nem era cliente dele. Certo dia, ao ter meu caminhão quebrado a uns 2 km de seu restaurante, ele não pensou duas vezes em me ajudar. Tudo aconteceu há 18 anos, em 1996. 

Fiquei parado durante quatro dias à espera de peças para arrumar meu caminhão. Na época, as coisas eram muito difíceis. Praticamente não existia comunicação. Celular era algo que nem sabia que viria a existir. Meu pai foi ao local, pegou o que deveria ser consertado e eu fiquei esperando ele retornar. Coisas da estrada que eram comuns naquela época.

Daí, sem mais nem menos, um caminhoneiro parou com um marmitex. ‘O dono do restaurante ali em baixo mandou lhe entregar. Disse que quando precisar de algo é só parar um caminhão e pedir que ele manda para você.’

Foi a salvação. Não tinha nem água próximo. Nessa época eu já era vegetariano. Avisei para ele por meio de um carreteiro e não teve qualquer problema. As refeições eram acompanhadas de salada, arroz e feijão.

Eu me senti muito grato pelo que o João Greco fez. Mesmo sem me conhecer, ele se dispôs a me ajudar. Quando acabou o conserto do caminhão, já altas horas da noite, prossegui a viagem. Na volta, passei lá para agradecer e pagar a conta da ajuda: mas quem disse que ele aceitou.

João fez a diferença naquele momento de dificuldade. Um homem com uma experiência de vida extraordinária e que até hoje é reconhecido pela ajuda que dá aos estradeiros que trafegam pela Fernão Dias.

Pessoas boas como João Greco fazem da nossa vida um aprendizado. Exemplo de cidadão que apoia os caminhoneiros da Fernão Dias. A ele dedico esta homenagem e esta matéria.” 


Geraldo Assis, diretor da revista Entre-Vias

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