Aedes Aegypti

Apenas um mosquito é agente transmissor de três doenças que impactam a saúde da população brasileira

Saúde / 13 de Abril de 2016 / 0 Comentários
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Aedes Aegypti, mais conhecido como o mosquito da dengue, tem feito gran­des estragos à saúde brasileira. Em Minas Gerais, no ano passado, foram 148.123 casos confirmados de dengue, de acordo com a Secretaria de Es­tado de Saúde de Minas Gerais (número ainda sujeito a revisão). Além da dengue, o Aedes Aegypti é agente transmissor da febre chikungunya e do zika vírus.

A Entrevias entrevistou o superintendente da Vigilância Epidemiológica, Am­biental e Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Rodrigo Said, para apresentar aos leitores o atual panorama epidemiológico dessas três patologias.

Entrevias: Em 2008, segundo dados fornecidos pela Secretaria de Saúde de Minas Gerais, o Estado teve 42.368 casos confirmados de dengue. Em 2015, o nú­mero (ainda sujeito a revisão) foi de 148.123. A que fatores devemos atribuir o aumento de casos?

Rodrigo Said: A curva de transmissão da dengue tem uma grande sazonalidade. Ela passa por momentos com picos de transmissão e anos de queda. Isso é devido a vários fato­res que estão relacionados à transmissão da doença. Para ela ser transmitida, é necessária a presença do vetor. Minas Gerais apresenta esse vetor desde 2008, com momentos de aumento da densidade, os quais podem ter relação com as condições cli­máticas favoráveis à sua reprodução e também com o aumento de criadouros.

Além disso, para ocorrer a transmissão da doença, é preciso haver a circulação dos vírus da dengue. Hoje, existem quatro sorotipos: 1, 2, 3 e 4. A alternância da circulação desses soroti­pos também ajuda muito na modulação das epidemias. Então, por exemplo, em 2013, que até então foi o ano em que houve a maior epidemia em Minas Gerais, a gente teve a introdução do sorotipo 4. Como ele nunca havia circulado no Estado, a gente tinha 100% de nossa população suscetível a contrair a dengue.

Nos dois últimos anos (2014 e 2015), estamos tendo a circulação do sorotipo 1, que prevaleceu em maior intensida­de nas áreas onde a população teve menor exposição a esse vírus. Ou seja, havia um grande contingente populacional para adquirir a doença, tendo em vista que grande parte da popu­lação nunca havia tido contato com esse vírus. É o caso do Sul de Minas, que era uma área mais fria, onde a transmissão de dengue era muito baixa. Todos esses fatores contribuem para termos essa curva de aumento de casos em determinados anos, seguidos de períodos de quedas e, novamente, dos aumento. E assim por diante.

Entrevias: Esclareça, por gentileza, a classificação de dengues 1, 2, 3 e 4?

RS: São quatro sorotipos para o vírus da dengue. É como se a gente tivesse agentes distintos que causam a doença. Então, um paciente pode ter, durante sua vida, quatro episódios de dengue (1, 2, 3 e 4). Mas não existe uma ordem clara. Vai ser de acordo com a circulação do vírus naquela localidade.

Entrevias: Atualmente, há 18 casos de microcefa­lia em Minas Gerais sendo investigados. Ainda não se sabe se há relação com o zika vírus. Em 2015, sete ca­sos de febre chikungunya foram confirmados, sendo que apenas um deles teve transmissão no Estado. Es­clareça, por favor, o panorama dessas patologias.

RS: É bom destacar que, em Minas Gerais, não há circu­lação dos vírus da febre chikungunya e do zika vírus. O que nós temos são pessoas que residem em nosso Estado e que, ao viajarem para determinadas localidades que estavam com transmissão, foram contaminadas pelas doenças. Ou seja, elas tiveram a transmissão, mas não pegaram as patologias aqui. Então, chamamos esses casos de “importados”.

Os sete casos de febre chikungunya aconteceram em pes­soas que residem em Minas e foram “importados”. Dois desses pacientes foram para a Bahia e pegaram a doença lá; outro foi para a Colômbia. Está sempre associado a esse deslocamento. Com relação ao zika vírus, sua circulação também ainda não foi comprovada aqui. Porém, uma vez identificado, o que a litera­tura mostra é que os dois vírus – chikungunya e zika – possuem grande potencial de causar epidemias, no mesmo montante ou ainda maior em relação à epidemia de dengue.

Entrevias: O que faz o mosquito transmitir uma doença e não a outra?

RS: Na verdade, o mosquito tem potencial para transmitir as três doenças, mas ele vai passar de acor­do com os vírus que estão em circulação porque ele adquire a doença do ser humano. A fêmea do mos­quito Aedes Aegypti também se alimenta de sangue, além de seivas vegetais. E parte desse sangue ajuda no processo de maturação de seus ovos. Ela precisa do sangue, principalmente no caso do Aedes Aegyp­ti, para ajudar em todo esse processo. Então, ela vai se alimentando de pessoas que têm o vírus na circu­lação de seu sangue, adquire os vírus chikungunya, dengue ou zika vírus e passa a ser um agente poten­cialmente transmissor a partir do momento em que há um novo repasse sanguíneo. O ser humano, no caso desses três agentes, é considerado um reserva­tório dessas doenças.

Entrevias: Quais os principais sintomas das três doenças, com suas diferenças?

RS: Na dengue, o paciente apresenta febre alta, normalmente acima de 38,5º, associada a vários sin­tomas: dor de cabeça, dor muscular e intensa em todo o corpo, náusea e vômitos. Pode apresentar manchas vermelhas pela pele e uma indisposição generalizada. Com a evolução da doença, a pessoa também pode ter complicações e chegar ao óbito. É importante o reconhecimento de alguns sinais, que nós chamamos de sinais de alarme, pela equipe de saúde porque são preventores das formas graves da doença. Os principais deles são após a queda da febre, dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes e hipoglição (queda da pressão arterial com sensação de tontura e desmaio). Esses sinais também são importantes para o reconhecimento das for­mas graves de dengue.

No caso da febre chikungunya, o paciente apresenta febre alta, normalmente acima de 38,5º, e a principal manifestação clínica da doença é uma dor nas articulações – popularmen­te chamadas de “juntas”. Essa dor é intensa e, muitas vezes, dificulta pequenos movimentos da pessoa, como o de cumpri­mentar, o de pegar uma escova, o de escrever. Nesse sentido, o principal sintoma é a febre associada à dor articular. Mas é cla­ro que várias outras características podem se apresentar, como náusea, vômito e manchas vermelhas na pele.

Já no zika vírus, normalmente a febre é mais baixa, não tendo importância. De acordo com a literatura, o paciente tem uma febre em torno de 37,5º e 38º, não acima disso. Mas o que mais chama a atenção são as manchas vermelhas na pele, que a gente chama de equizantema. Grande parte dos pacientes tam­bém apresenta vermelhidão nos olhos, um tipo de conjuntivite associada ao zika vírus.

Não é tão simples fazer a diferenciação dessas três doenças. Por isso, é importante, clinicamente, em casos de aparecimento de qualquer sintoma, procurar uma equipe de saúde para ela pro­videnciar o diagnóstico o mais rápido possível. A dengue pode levar a óbito rapidamente. Então, todas as três, inicialmente, são manejadas como dengue, com orientação de repouso, hidratação (e não-uso de nenhum medicamento sem prescrição médica).

Entrevias: O tratamento e a prevenção são iguais nos três casos?

RA: Sim. Normalmente, recomendam-se o repouso, a hi­dratação e medicamentos sintomáticos, pois não existem es­pecíficos para essas doenças, somente para combaterem os sintomas.

A prevenção também é igual porque as três doenças são causadas pelo mesmo agente transmissor. Por isso, é preciso combater o mosquito, não deixando água parada em qualquer recipiente.

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