Casa, comida e roupa lavada

Relato de motorista sobre tratamento digno recebido na Fazenda Botuverá, no Mato Grosso, viraliza nas redes sociais. Local oferece refeições, áreas de descanso, convivência e banho e até internet de graça para caminhoneiros.

Bom Exemplo / 27 de Agosto de 2021 / 0 Comentários
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Trafegar pelas estradas do país definitivamente não é uma tarefa fácil. Diariamente, os motoristas precisam lidar com rodovias ruins, longas jornadas, saudade da família, altos gastos, medo da violência e insegurança. Por outro lado, sempre existe algo que faz a esperança ressurgir e mostrar que ainda há bons exemplos pelo caminho.

Em meados de julho último, Fernando de Castro gravou um vídeo contando a experiência que teve na Fazenda Botuverá, localizada em Gaúcha do Norte (MT), para carregar milho – ele é caminhoneiro há três anos, mas acumula uma década de experiência no setor de transporte de grãos.

Fernando chegou ao local por volta de 13h15, já depois de muitas horas na estrada e sem almoçar, e seguiu até o refeitório para tentar comprar uma marmita. A atendente, então, lhe entregou a última refeição. Ao questionar o preço, ele foi informado de que a comida não era cobrada. O motorista ficou ainda mais surpreso ao saber que, se precisasse permanecer mais tempo, também poderia se servir de café da tarde, jantar e café da manhã gratuitos.

Segundo o transportador, a fazenda também disponibiliza um espaço de convivência com banheiro limpo, chuveiro com água quente, televisão, internet, lavanderia e um local seguro para estacionar o caminhão. Tudo sem custo adicional e com o intuito de promover o bem-estar dos caminhoneiros e empresários que frequentam o lugar a trabalho. “Tem local que a gente vai que nem água dá”, compara Fernando sem esconder a surpresa.

O vídeo feito por ele foi divulgado no canal Realidade de Caminhoneiro, do Claudemir Travain. Rapidamente, outros caminhoneiros deixaram comentários parabenizando a fazenda pela iniciativa. “É muito raro a gente ter esse suporte. Geralmente, não temos lugar nem para descansar, não tem segurança nem do poder público”, afirma Fernando.

Bastidores

Os proprietários da Fazenda Botuverá se espantaram com a repercussão do depoimento do motorista. Para eles, o tratamento adequado aos profissionais que frequentam o espaço faz parte dos valores da empresa.

“Ficamos surpresos porque é algo muito natural para nós. Meu pai sempre fala que o que temos de mais valioso são as pessoas, sejam elas da família, da empresa ou prestadoras de serviço. É o que mais importa pra gente. Então, fazemos de tudo para que as pessoas sejam bem-tratadas”, garante o diretor de agropecuária da empresa, Tiago Bissoni, filho de Vilymar Bissoni, um dos fundadores da fazenda.

“Em relação ao fornecimento de alimentos, por exemplo, nem entendemos nosso gesto como algo diferente. Por isso, ficamos surpresos [com a repercussão]. Quem chega à fazenda tem que ter o que comer, no mínimo. É inadmissível pra gente alguém ficar com fome. Nós queremos que as pessoas tenham um atendimento digno, com comida, lugar para descansar, ver televisão, poder tomar um banho quente. Tem até lugar para lavar roupa e fazer um churrasco”, completa Tiago.

História

A Botuverá foi fundada em 1975 pelos irmãos Vilymar, Adelino e Tarciso. Os três eram motoristas de caminhão na época e transportavam grãos pelo país. Portanto, sabem bem o que é estar na estrada dia e noite. Depois, os outros dois irmãos, Glomir e Santo Nicolau, mais conhecido como Nico, juntaram-se à sociedade.

O espaço da Fazenda Botuverá foi adquirido em 1997, em uma região totalmente inabitada. A cidade mais perto é Gaúcha do Norte, a 110 km da sede. No primeiro ano, foi preciso melhorar as estradas de acesso à fazenda e construir armazém, cantina, alojamento e toda estrutura necessária.

Hoje, a empresa é detentora de três propriedades na região: as fazendas Botuverá, Bom Pastor e Vó Juvita, em homenagem à Juvita Bissoni, a matriarca da família, que faleceu recentemente, aos 91 anos.

Segundo Tiago, toda a produção é escoada por meio do transporte rodoviário. São 23 mil hectares de soja e 12 mil hectares de milho, além de aproximadamente 4.000 bois abatidos anualmente. “Por isso, recebemos cerca de 20 a 40 caminhões todos os dias”, destaca.

A Botuverá é a maior fazenda do grupo e abriga também 55 moradias familiares. Além das casas, há um alojamento para os trabalhadores que residem fora ou são solteiros. Os funcionários que têm família moram na comunidade, que, hoje, conta com posto de saúde, escola para 300 alunos, igreja, campo de futebol, quadra de vôlei e academia ao ar livre. Os equipamentos foram construídos pela família e são conservados em parceria com prefeituras e fazendas vizinhas.

O nome da empresa vem da cidade homônima, localizada no interior do Estado catarinense, perto de Brusque, cidade natal da família. Foi em Botuverá que Vicente (também falecido) e Juvita deram início à família e ao grupo empresarial. De Santa Catarina, o negócio se estendeu até as redondezas da cidade de Rondonópolis (MT).

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