Conta salgada

Pesquisa destaca os impactos do consumo excessivo de sódio pelos brasileiros. Redução nos teores da substância pode evitar mais de 2.000 mortes em duas décadas.

Saúde / 27 de Novembro de 2021 / 0 Comentários
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Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade de Liverpool, no Reino Unido, concluiu que a redução voluntária do sódio nos alimentos industrializados deverá prevenir 180 mil novos diagnósticos de doenças cardiovasculares associadas à hipertensão ao longo de duas décadas no Brasil. No mesmo intervalo, 2.600 mortes decorrentes dessas enfermidades também poderão ser evitadas, bem como 12 mil óbitos causados por outras patologias relacionadas ao excesso da substância. O resultado da pesquisa foi publicado na edição de 28 de setembro da revista “BMC Medicine”.

“O estudo teve por objetivo estimar o impacto das atuais metas voluntárias de redução de sódio no país em um período de 20 anos e, a partir disso, trazer evidências para a implementação de políticas mais efetivas para a prevenção de mortes e de doenças associadas ao consumo excessivo pelos brasileiros”, explicou o pesquisador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP Eduardo Nilson.

Nos últimos dez anos, o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) vêm acordando, voluntariamente, a redução gradual do teor de sódio nos alimentos prioritários e estabelecendo metas para o percentual máximo. De 2011 a 2018, os pesquisadores identificaram a redução de 0,1 g/dia no consumo diário de sódio dos brasileiros, que passou de 3,7 g/dia para 3,6 g/dia. As estimativas de redução de doenças e mortes em 20 anos são baseadas nesse comportamento.

Mas, se por um lado houve progresso, por outro, ainda há um longo caminho de mudanças a ser percorrido. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que sejam consumidos, no máximo, 2 g/dia de sódio. Para Nilson, se o país se aproximasse desse patamar em todo o mercado de alimentos, o número de óbitos cairia ainda mais. Por ora, as metas de redução se limitam às empresas associadas à Abia, que representa cerca de 70% da indústria nacional do setor.

Causa e efeito

O consumo excessivo de sódio associa-se diretamente à elevação da pressão arterial, condição que desencadeia diversas doenças cardiovasculares. De acordo com o pesquisador do Nupens, trata-se, portanto, de uma prioridade de saúde pública, uma vez que essas enfermidades são a principal causa de morte entre as patologias crônicas não transmissíveis no Brasil e no mundo. O representante da USP também destacou que o excesso do mineral está associado à ocorrência de câncer gástrico, doenças renais e osteoporose, além de outras patologias.

“Por exemplo, anualmente, mais de 47 mil brasileiros morrem por doenças cardiovasculares atribuíveis ao excesso de sódio na dieta. Essas doenças são evitáveis, e a redução do consumo de sódio é benéfica para todas as idades e para pessoas com ou sem hipertensão arterial”, afirmou Nilson.

Segundo o pesquisador, é preciso haver um avanço mais significativo na redução do consumo de sódio, considerando não somente o sal de cozinha e os temperos à base de sal, mas os alimentos produzidos e consumidos fora de casa. Outro ponto crucial, conforme destacado por ele, é a queda nos teores de sódio dos produtos processados e ultraprocessados.

“Especificamente no tocante a esses alimentos, é necessário aumentar o impacto das metas atuais, reduzindo ainda mais o limite máximo de sódio, incluindo mais categorias nas metas de redução e ampliando o alcance delas a todos os produtos no mercado para além das indústrias que fazem parte dos acordos e fortalecendo o monitoramento e a possível aplicação de sanções ao não cumprimento das metas”, concluiu Nilson. (Com a Agência Brasil)

 

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