Descaminhos brasileiros

Editorial / 19 de Novembro de 2019 / 0 Comentários
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Não é preciso ir muito longe para perceber que a qualidade das rodovias brasileiras deixa a desejar, inclusive em trechos que já foram concedidos à iniciativa privada – e, portanto, onde há cobrança de tarifas de pedágio. Mas deparar-se com essa realidade em números é ainda mais perturbador. Nesta edição da Entrevias, a matéria de capa esmiúça os dados apresentados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) na Pesquisa de Rodovias 2019. A conclusão do levantamento é que as estradas ficaram ainda piores neste ano.

Além do estado geral, os quesitos pavimento, sinalização e geometria revelaram-se mais deteriorados do que no ano passado. No total, houve um aumento de 75,6% no número de pontos críticos identificados nos 108.863 km avaliados pelos pesquisadores da CNT, passando de 454 para 797, de um ano para o outro.

O resultado dessa falta de atenção e de cuidado com o modal rodoviário está ilustrado em uma das matérias de Estradas, que mostra as estatísticas de acidentes no trânsito, também apuradas pela confederação. Em 2018, foram registradas 69.206 ocorrências, grande parte delas (78%) com vítimas. Os cálculos apontam que, anualmente, mais de 5.000 pessoas morrem nas rodovias federais, o que corresponde a aproximadamente 14 óbitos por dia em cerca de 190 acidentes.

Além de provocarem enorme prejuízo humano, a precariedade da infraestrutura rodoviária e a falta de investimentos em melhorias prejudicam a competitividade dos produtos brasileiros, porque aumentam o custo deles em quase 30%. Nas rodovias em que o asfalto é péssimo, o encarecimento beira os 100%, de acordo com a pesquisa da CNT.

Infelizmente, o cenário é desolador nesta reta final de ano. As ações emergenciais de manutenção e de reconstrução rodoviárias em todo o país custariam R$ 6,67 bilhões. Mas, além de aprovar um orçamento anual inferior ao necessário (de R$ 6,20 bilhões), o governo federal investiu, até setembro último, apenas 77% (R$ 4,78 bilhões) do que foi autorizado para 2019. Dessa forma, o ritmo lento da reação bate de frente com a urgência dela.

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