Diversidade no transporte

Levantamento aponta aumento de 61% nas contratações de mulheres no setor em São Paulo. Ana Jarrouge, presidente executiva do Setcesp, conta os impactos desse crescimento.

Estradas / 21 de Setembro de 2022 / 0 Comentários
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O segmento que leva desenvolvimento para todo o país está cada dia mais diverso. Levantamento do Instituto Paulista do Transporte de Carga apontou que, no ano passado, o público feminino aumentou em 61% nas ocupações do setor de transporte rodoviário de carga do Estado de São Paulo. Foram 32.094 admissões.

Ana Jarrouge, presidente executiva do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), conversou com a Entrevias sobre o simbolismo desse aumento nas contratações, o impacto nas atividades, os desafios e os resultados nas empresas.

 

Entrevias: O levantamento do Instituto Paulista do Transporte de Carga apontou que, no ano passado, o público feminino aumentou em 61% nas ocupações do setor de transporte rodoviário de carga do Estado de São Paulo. Qual o perfil dos cargos/funções do público feminino nesse segmento?

Ana Jarrouge: Atualmente, os cargos que apresentam uma participação maior do público feminino são nas áreas administrativa e comercial, mas é justamente isso que a gente quer mudar para fazer com que as mulheres enxerguem outras oportunidades, principalmente na área operacional, onde já temos um problema antigo com a falta de mão de obra.  Contudo, esse crescimento é muito significativo e mostra como estamos evoluindo perante o mercado pra obter ainda mais vez e voz para as mulheres no segmento. Muito embora o número ainda seja inferior ao dos homens, isso mostra que estamos no caminho.

A participação de mais mulheres promovendo a diversidade gera quais resultados?

Inovação, criatividade e melhoria contínua são processos dinâmicos que só ocorrem de maneira plena e assertiva quando existe diversidade. Dessa forma, uma empresa que conta com um time diverso, em todos os aspectos (raça, gênero, etnia, idade, experiências, cultural, social, biológica, religiosa etc.), tem muito mais chances de se manter no mercado, uma vez que são pessoas diversas encontrando soluções para um mundo diverso. Pessoas “iguais” tendem a pensar da mesma forma, ao passo que pessoas diversas tendem a pensar de forma disruptiva, colaborando efetivamente para o crescimento sustentável dos negócios.

 

Esse cenário é resultado de uma política mais inclusiva das transportadoras ou fruto do aumento da participação no mercado de trabalho como um todo?

Acredito que as empresas estão, sim, adotando políticas mais inclusivas, e isso é perceptível, o que transmite para a sociedade a mensagem clara de que elas estão se esforçando para receber e contratar talentos, sejam eles quais forem. Dessa forma, as mulheres estão se sentindo mais seguras para se candidatarem a diversos tipos de vagas dentro do transporte. Então, na realidade, uma coisa é consequência da outra, e é muito positivo.

 

Quais são os desafios estruturantes para as mulheres alcançarem o mercado de trabalho ocupando posições estratégicas?

Existem muitos desafios a serem enfrentados. Para cargos em nível C, ou seja, de alta administração estratégica e que tomam decisões importantes, as empresas precisam adotar políticas mais inclusivas no sentido de abordar questões como maternidade, jornada flexível e remuneração equivalente à dos homens. Esses fatores são fundamentais para que elas almejem alcançar posições mais estratégicas, onde historicamente há predominância do público masculino.

 

O setor de transporte ainda é majoritariamente masculino?

Sim, principalmente quando falamos sobre a área operacional. Para se ter uma ideia, as mulheres dessa área representam menos de 2% de todos os profissionais operacionais do segmento. É uma grande diferença, que ainda exige muito para que o cenário seja revertido, porém é um caminho que estamos trilhando pouco a pouco, e hoje conseguimos incluir ações para que isso aconteça. É lento, mas esse crescimento pode ser um indicativo de que as mulheres começaram a perceber o quanto o transporte pode proporcionar oportunidades e crescimento profissional.

 

Que ações as transportadoras podem adotar para atrair mais mulheres?

Há diversas ações que podem ser tomadas, desde novas ferramentas de divulgação das vagas, modelo diferenciado de recrutamento e seleção, apoio para entrantes com programas de formação e capacitação, criação de políticas de crescimento profissional e reconhecimento, conscientização da liderança, criação de grupos de debates e discussões sobre algumas situações peculiares do universo feminino (agressão doméstica, sustento familiar, assédio, maternidade etc.), criação de comitês de diversidade a até adaptação dos ambientes de trabalho (banheiros e vestiários nas áreas operacionais), entre outras.

Temos inúmeros exemplos de empresas já adotando essas e outras ações e, por meio do Movimento Vez e Voz, temos um grupo de trabalho específico elaborando um manual de boas práticas para justamente ajudar aquelas empresas que não sabem como começar a lidar com esse tema e precisam de um direcionamento inicial.

Acredito que a união de todos é parte fundamental para mudarmos esse contexto. Nossa intenção não é promover mudança por meio de ruptura ou divisão. Ao contrário, sabemos que se trata de algo de longo prazo, mas que será feito de forma sustentável, criando um ambiente saudável, inclusivo e respeitoso para as mulheres dentro do transporte rodoviário de cargas, a fim de que elas se candidatem e ocupem qualquer função na qual se sintam aptas e capazes.  

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