Dois pesos, duas medidas

Preço do óleo diesel dispara, e governo reduz imposto, mas reajuste na tabela do frete não acompanha. Para suprirem o rombo, autônomos recebem vale até dezembro.

Economia / 26 de Agosto de 2022 / 0 Comentários
A- A A+

Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que, em um ano, o preço médio do litro do óleo diesel nas bombas subiu aproximadamente 60%. No mesmo período, o piso do frete foi reajustado em menos de 30%, segundo dados publicados na CNN.

A disparada forçou o governo a tomar medidas urgentes mesmo perto das eleições e a aprovar o auxílio de R$ 1.000 para caminhoneiros autônomos.

Em meados de julho, a Câmara e o Senado aprovaram a Lei Complementar 194/2022, que limitou a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para gasolina e etanol à alíquota mínima de cada Estado. Rapidamente, a medida impactou o preço principalmente da gasolina.

Esse desequilíbrio afeta diretamente os transportadores e causa impactos nos custos do transporte. Diante desse cenário, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) defendeu a recomposição imediata do preço do frete. “O transporte rodoviário de cargas é um serviço essencial e se mostrou imprescindível durante a pandemia. Contudo, é inviável que as empresas continuem absorvendo as altas dos preços do combustível”, afirmou a instituição.

A confederação ressaltou que a recomposição da tabela é fundamental para se evitar o colapso de inúmeras empresas transportadoras que, antes mesmo dos últimos reajustes, já vinham negociando com os clientes o repasse de quase 50% do aumento do diesel registrado no ano passado. A CNT alertou que, sem o repasse imediato, a operação de transporte no Brasil corre o risco de se tornar inviável.

“É claro que nos preocupamos com a população e com as consequências que o repasse desse aumento trará à vida das pessoas. Estamos atentos e muito preocupados com toda essa situação, mas o setor, infelizmente, não tem mais quaisquer condições de segurar esse aumento, que deve ser repassado imediatamente”, afirmou o presidente da confederação, Vander Costa, ainda no início deste ano.

Auxílio

O Ministério do Trabalho e Previdência já divulgou o calendário para o pagamento do auxílio a caminhoneiros e taxistas afetados pela alta do preço dos combustíveis. Ele será pago de agosto a dezembro deste ano, sendo que a de agosto será em dobro porque se refere também ao mês de julho.

O valor aprovado é de R$ 1.000, e a primeira parcela será de R$ 2.000. O objetivo é cobrir o efeito da alta do diesel. O auxílio-caminhoneiro começa a ser pago no dia 9 de agosto, e as próximas parcelas estão agendadas para 24 de setembro, 22 de outubro, 26 de novembro e 17 de dezembro.

O benefício emergencial aos transportadores autônomos de carga será pago a todos os caminhoneiros autônomos cadastrados no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC) até 31 de maio deste ano. O cadastro precisa estar ativo, assim como o CPF e a Carteira Nacional de Habilitação do beneficiado. O valor é fixo independentemente da quantidade de veículos que o motorista possuir.

Para Irani Gomes, presidente do Sindicato das Empresas Transportadoras de Combustível e Derivados de Petróleo do Estado de Minas Gerais (SindTanque-MG), toda ajuda é bem-vinda, mas, com o valor atual do diesel, o valor pago não é tão significativo para amenizar os impactos financeiros que os caminhoneiros têm no momento. “Hoje, R$ 1.000 dão para colocar 130 litros, que o caminhão gasta em um percurso de 250 km. Isso é insignificativo diante do que gasta um caminhão no transporte de carga. É pouco para amenizar qualquer impacto que o caminhoneiro está tendo por causa dos aumentos recorrentes do preço do óleo diesel”, afirmou.

Para ele, a solução é reduzir o ICMS do óleo diesel, e não só da gasolina e do etanol, como foi feito. “O diesel, sim, impacta a inflação e toda a economia. Oitenta por cento das cargas no país circulam pelo transporte rodoviário. Então, o preço do diesel impacta tudo. A pergunta que fazemos é: ‘por que as alíquotas sobre o óleo diesel não foram reduzidas também?’”, completou Irani.

Tabela do frete

No fim de julho, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) aprovou o reajuste da tabela dos pisos mínimos de frete do transporte rodoviário de cargas. O aumento tem como base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado no período de dezembro de 2021 a junho de 2022.

De acordo com a ANTT, também será aplicada a variação do valor do óleo diesel S10, referente aos valores divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para o período de 10 a 16 de julho.

A revisão feita agora não altera a metodologia vigente, segundo a ANTT, apenas aplica a variação acumulada do IPCA sobre itens de custo, compostos pelos insumos e serviços relacionados à prestação do serviço, além de atualizar o valor do diesel.

“O óleo diesel representa muito dos gastos dos caminhoneiros e é apenas um dos itens, ou seja, ainda precisamos sempre ficar de olho em pneu, manutenção do veículo e outros. É fundamental que o governo adote medidas para reduzir o preço do diesel e esteja sempre buscando o menor preço porque o impacto disso em toda a cadeia produtiva é grande”, declarou o presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais (Sintrauto), Carlos Roesel.

 

Estoque

Um dos gargalos com relação ao preço do diesel é que o Brasil está cada vez mais dependente de importações, e essa conta fica mais cara quando o S10 se torna mais caro no mercado internacional.

A Rússia é responsável por abastecer 15% do mercado mundial de diesel, ou seja, a guerra com a Ucrânia impacta diretamente o fornecimento e o preço. Isso tem forçado o Brasil a estocar o diesel para reduzir a necessidade de importação imediata pra suprir o mercado interno.

Em meados de julho, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, disse que o Brasil conseguiu manter diesel em estoque para 50 dias sem necessidade de importação. Até a data, a soma chegava a 1,6 milhão de metros cúbicos do diesel S10, que não tem adição do biodiesel. “Se acontecer alguma coisa no mundo e não se puder importar mais petróleo, o Brasil terá 50 dias de diesel sem precisar importar”, declarou o ministro.

Segundo ele, a pasta monitora o cenário de abastecimento no mercado internacional junto com a ANP. Hoje, as empresas do setor são obrigadas a manter um estoque do diesel de três a cinco dias para atender ao mercado.

Diante desse cenário, a indústria do biodiesel pressiona o governo para que aumente os percentuais da mistura de biocombustível no diesel fóssil. O percentual hoje está fixado em 10% desde o ano passado, e a proposta é que aumente para 14% pra reduzir a crise no abastecimento. O problema é que o percentual também aumentaria ainda mais o preço do combustível. (Com as agências Brasil e CNT Transporte Atual)

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião de Revista Entrevias. É vedada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. Revista Entrevias poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.