Enfim, pronta

Obras na BR-163, conhecida pelos atoleiros e pela dor de cabeça causada aos motoristas, são concluídas pelo Exército

Estradas / 18 de Janeiro de 2020 / 0 Comentários
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A BR-163, que atravessa as regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, está 100% pavimentada. O serviço foi realizado por militares do 8º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC) e gerenciado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). O resultado vai beneficiar, principalmente, os transportadores que utilizam a rodovia, importante rota de escoamento da produção brasileira.

As obras tiveram início ainda na década de 70, e a finalização foi uma das promessas do atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, assim que assumiu a pasta. O trecho mais crítico era o que fica entre Sinop, no Mato Grosso, e Miritituba, no Pará. “Estamos redirecionando a logística do país para o Norte, porque teremos menores distâncias para os mercados consumidores da Ásia e da Europa. Seremos mais competitivos e diminuiremos o custo para o produtor. É mais dinheiro que sobra para novos investimentos e mais empregos gerados. Com essa obra, o Brasil volta a ser um grande player no cenário internacional”, afirmou o ministro em entrevista à TV Brasil.

Segundo Freitas, é possível que alguns trechos sejam concedidos, e o ministério já realizou estudos sobre a viabilidade da concessão. “Acredito que ela deve ocorrer em 2020”, disse.

Além do asfaltamento, foi feita a manutenção de 1.300 km da rodovia até Santarém, no Pará. O Dnit também iniciou o trabalho de hidrossemeadura na região, que é a aplicação de sementes para criar vegetação de proteção. O objetivo é resguardar os taludes de erosões.

Inverno amazônico

No ano passado, a Entrevias destacou a situação crítica da rodovia. A BR-163 é uma das mais importantes para o escoamento de grãos, especialmente a soja. No entanto, os caminhoneiros vinham enfrentando desafios constantes em estradas de terra e muito atoleiro até o destino final para a exportação do produto, já que a safra da soja coincide com o chamado “inverno amazônico”, quando chove bastante no Norte do país.

Em fevereiro e em março de 2018, por exemplo, caminhões formaram filas gigantescas na rodovia, sem conseguirem seguir viagem por causa da lama. A estimativa é que cerca de 70 mil veículos passem pelo trecho todos os dias, sendo que 70% deles são de cargas.

Anualmente, a Polícia Rodoviária Federal, em parceria com o Exército, monta a operação Radar, para auxiliar os motoristas. Além da lama, a sinalização na via é precária, e, onde o asfalto existia, ele era ruim, e não havia acostamento.

Histórico

A BR-163 começa em Cuiabá, no extremo Sul do Mato Grosso, e segue para o Norte do país por mais de 1.000 km, mergulhando diretamente na Amazônia. A construção da rodovia fez parte do Plano de Integração Nacional (PIN) do governo militar e pertencia a um movimento desencadeado na época, cujo tema era “Integrar para não Entregar!”.

Sob pressão para ocupar a região amazônica, os governantes determinaram que o BEC do Rio Grande do Sul fosse para Cuiabá e instalasse uma base com o objetivo de implantar a BR-163, ligando a capital mato-grossense a Santarém.

Em 1971, o coronel Antônio Paranhos inaugurou o 9º BEC e começou a abertura da estrada que viria a interligar o Norte do país às regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Ao mesmo tempo, em Santarém, foi instalado o 8º BEC, que tinha uma missão equivalente, porém na direção contrária (Sul-Norte).

Percalços

Foram cinco anos de muito trabalho, desafios e também perigos, pois se tratava da ocupação de uma região inóspita. Em 1971, o coronel José Meireles assumiu o comando do 9º BEC e deu início às obras. A tribo Kreen-Akarore, conhecida como os “Gigantes da Amazônia”, ainda não havia tido contato com outros homens, e foi preciso convidar os irmãos e antropólogos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas para intervirem na aproximação dos índios com os construtores da BR-163.

Além da distância, havia muita dificuldade para transportar os equipamentos, em função da ausência de pontes e de estradas alternativas. Um avião era utilizado para levar alimentos para os trabalhadores quando eles estavam isolados ou distantes do alojamento. Foi durante o processo de construção da BR-163 que muitas cidades foram fundadas às margens da rodovia. São os casos de Lucas do Rio Verde – antigo acampamento dos trabalhadores –, de Sinop e de Peixoto de Azevedo, por exemplo.

As situações enfrentadas pelos desbravadores eram críticas. Doenças tropicais, isolamento e até o contato com tribos indígenas traziam muitos problemas aos trabalhadores e aos militares. Oficialmente, o Exército registrou a morte de 32 homens durante as obras de implantação da BR-163. Nenhuma delas foi causada por acidente; todas foram decorrentes de doenças como a malária.

A construção do porto de Santarém começou em 1999 e foi concluída em 2003 pela Cargill, a maior empresa privada dos Estados Unidos. Apesar de a corporação não ter feito o estudo de impacto ambiental solicitado – fato que resultou em sucessivas declarações de ilegalidade do terminal por parte dos tribunais brasileiros –, o porto começou a funcionar. A obra foi um movimento estratégico, permitindo que a soja chegasse ao mercado de forma mais rápida e barata. 

 

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