Epidemia da obesidade

Estudo revela que, até 2030, 68% da população brasileira estará acima do peso ideal. Para pesquisadores, medidas devem ser tomadas em âmbito coletivo.

Saúde / 10 de Março de 2022 / 0 Comentários
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O excesso de peso já está sendo considerado uma epidemia e poderá afetar 68% da população brasileira até 2030. A informação, alarmante para as autoridades de saúde, é resultado do estudo “A Epidemia da Obesidade e as DCNT – Causas, custos e sobrecarga no SUS”, realizado por 17 pesquisadores de universidades do Brasil e do Chile. A pesquisa também revelou que, a cada quatro brasileiros, um será obeso (o equivalente a 26%).

Os números do sobrepeso vêm aumentando no país nas últimas décadas. Em 2006, a prevalência era de 42,6%. Em 2019, subiu para 55,9%. Já a obesidade saltou de 11,8% para 20,3% no mesmo período.

O que preocupa as autoridades é o consequente avanço da incidência de diversas Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), cuja prevalência pode gerar impactos no Sistema Único de Saúde (SUS). Entre elas estão patologias cardiovasculares e respiratórias, neoplasias e diabetes.

Em 2019, segundo dados mostrados no estudo, as DCNT foram responsáveis por 55% das mortes de adultos no Brasil. Desse percentual, mais da metade das pessoas tinha entre 30 e 69 anos de idade. Ou seja, mortes consideradas prematuras e evitáveis.

Os principais fatores de risco para esse tipo de enfermidade são tabagismo, consumo abusivo de álcool, alimentação não saudável e falta de atividade física. O acúmulo excessivo de gordura corporal está associado ao aumento do risco de mais de 30 doenças.

 

Causa e efeito

O estudo foi coordenado pelo professor e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo Leandro Rezende. Segundo ele, o excesso de peso e a obesidade vêm aumentando no mundo por causas populacionais, e não individuais. “A gente define como causa populacional um conjunto de mudanças, especialmente no sistema alimentar, que foram ocorrendo nas décadas de 1970 e 1980. Notavelmente, a partir de alterações tanto na legislação (leis agrícolas) quanto no marketing e no processamento de alimentos. Essas questões foram mudando e tornaram o problema do excesso de peso e da obesidade uma epidemia”, afirmou.

De acordo com Rezende, é ideal que se olhe para o problema pensando em estratégias de prevenção no âmbito populacional. Ele cita como exemplo as ações para controle e combate ao tabagismo no Brasil. “Olhamos para o tabagismo como um fenômeno populacional e propomos estratégias de prevenção. Conseguimos sair de uma prevalência de 30%, 40% de tabagistas no país para menos de 10%, hoje, por conta das políticas públicas que foram adotadas para combater o cigarro de forma populacional, e não como escolha individual. Ou seja, uma falta de vontade das pessoas pararem de fumar”, completou o pesquisador.

 

Reação necessária

Para que o país consiga frear o avanço do sobrepeso, as estratégias sugeridas como política pública são aquelas voltadas para a redução do consumo de alimentos ultraprocessados. Entre as propostas estão tributação diferenciada, informação nutricional mais clara e simples nos rótulos e restrição para marketing e publicidade.

A pesquisa descreve os ultraprocessados como formulações de origem e uso industriais obtidas por meio do fracionamento de alimentos como açúcar, óleos e gorduras, aos quais se somam corantes, aromatizantes, emulsificantes e outros aditivos para melhorar o paladar. Trocando em miúdos: não são comida de verdade, mas, sim, produtos de consumo rápido, com baixo custo de produção, excesso de conservantes e data de vencimento prolongada, ficando assim mais tempo expostos nas prateleiras dos supermercados.

Entre outras ações inseridas no plano de enfrentamento da obesidade e das doenças crônicas do Ministério da Saúde estão reforma tributária do sistema alimentar, regras para publicidade especiais pra crianças, ampliação do acesso a alimentos orgânicos e restrição ao uso de agrotóxicos.

Em 2014, foi lançado o Guia Alimentar para a População Brasileira com orientações sobre o consumo de alimentos e uma classificação de acordo com o que deve ser consumido frequentemente e o que deve ser evitado ou cortado do cardápio. O material é uma ferramenta orientadora de políticas públicas, além de ser um meio de consulta para a população. O guia em formato e-book está disponível no site do Ministério da Saúde (saude.gov.br) e pode ser baixado gratuitamente. (Com a Agência Brasil)

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