Epidemia de Desassossego

População brasileira lidera ranking mundial de ansiedade excessiva e dos transtornos causados por ela

Saúde / 23 de Julho de 2019 / 0 Comentários
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O Brasil é o país mais ansioso do mundo. A informação foi divulgada no início de junho pela Organização Mundial de Saúde (OMS). São 8,6 milhões de brasileiros – ou 9,3% da população – convivendo com transtornos causados pela ansiedade, uma verdadeira epidemia. A ansiedade é considerada um dos males do século, segundo a OMS, e acomete aproximadamente 7,7% das mulheres e 3,6% dos homens. A estimativa é que 33% da população mundial seja ansiosa em níveis excessivos.

O psiquiatra e supervisor do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC/USP), Luiz Vicente Figueira de Mello, disse, em entrevista à rádio USP, que o problema surge quando a ansiedade começa a interferir negativamente na vida da pessoa. Enquanto isso não acontece, é um comportamento natural.

“O que nós chamamos de transtorno de ansiedade é quando ela interfere em nossas vidas, causando sintomas como taquicardia, sudorese, tremores, dores musculares, mal-estar, preocupações excessivas, insônia”, explicou Mello.

O Ministério da Saúde também chama a atenção para alguns sinais e salienta que é importante levá-los a sério: tensões ou medos exagerados, ou seja, quando a pessoa não consegue relaxar; sensação contínua de desastre ou de que algo ruim vai acontecer; preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho; medo extremo de algum objeto ou situação em particular; medo de ser humilhado publicamente, falta de controle sobre pensamentos, imagens e atitudes que se tornam repetitivas mesmo sem vontade; muito medo de passar por uma situação difícil.

Existem também sintomas físicos, como dor ou aperto no peito e aumento das batidas do coração, respiração ofegante ou falta de ar, aumento do suor, tremores nas mãos ou em outras partes do corpo, sensação de fraqueza ou cansaço, boca seca, mãos e pés frios ou suados, náusea, tensão muscular, dor de barriga e diarreia. Em alguns casos, essas manifestações físicas podem até ser confundidas com infarto ou outras doenças cardiovasculares. 

Gatilhos

A ansiedade pode ser causada por genética ou histórico familiar de transtornos de ansiedade; fatores ambientais, como eventos traumáticos ou estressantes; mentalidade ou modelo de pensamento, podendo ser ainda reflexo de doenças físicas. Os eventos traumáticos são um dos fatores de risco para qualquer idade. Acúmulo de estresse, personalidade de pessoas perfeccionistas ou controladoras, abuso de álcool, cigarro e drogas são outras ameaças.

O Brasil, segundo a OMS, é o país mais estressado da América Latina. Nos últimos dez anos, o número de casos de depressão aumentou 18,4%. Hoje, quase 6% da população brasileira tem diagnóstico de quadro depressivo. No caso da ansiedade, o problema engloba quadros como de fobia, transtorno obsessivo-compulsivo, estresse pós-traumático e ataque de pânico.

Também em entrevista à rádio USP, a professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Alline Campos explicou a diferença entre estresse, depressão e ansiedade. “Estresse é uma coisa que vivemos e à qual estamos expostos a todo tempo; a ansiedade é uma doença grave relacionada com o futuro – a pessoa sempre sente receio em tudo o que vai fazer. Já a depressão está relacionada ao passado, algo que é um peso – a pessoa se sente deprimida, incapaz de expressar o sentimento e com medo de lidar com certas situações”, disse Alline.

Para reduzir ou combater a ansiedade, a recomendação é procurar um médico ou profissional especializado. Terapias diversas e alternativas e até mesmo o uso de medicamentos são opções de tratamentos, mas eles devem ser direcionados por especialistas. 

Desastres

Em casos de tragédias em que há luto coletivo, como o de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, após o rompimento da barragem da Vale, em janeiro deste ano, organismos de saúde pública precisam atuar diretamente na condição mental dos atingidos e da população em geral.

O Ministério da Saúde liberou R$ 4 milhões para ações no município, especialmente para atendimento em saúde mental, devido ao estresse pós-traumático em relação à perda de familiares. Dois Centros de Atenção Psicossocial foram habilitados na cidade, e três equipes multiprofissionais de atenção especializada em saúde mental estão atuando junto às comunidades.

“O objetivo é oferecer assistência psicológica àqueles que vivenciaram o desastre ou tiveram amigos e familiares desaparecidos. Em situações semelhantes, foi identificado, por exemplo, aumento dos casos de ansiedade e de depressão”, destacou a pasta.

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