Faltam caminhoneiros nos EUA

Profissionais do transporte estão sendo laçados pelas empresas com ofertas de altos salários. Economia do país já está sendo impactada.

Estradas / 08 de Agosto de 2018 / 0 Comentários
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Enquanto no Brasil profissionais do transporte rodoviário de cargas lutam pela aprovação de uma tabela de preço mínimo do frete com valores dignos, nos Estados Unidos motoristas estão sendo laçados pelas empresas com ofertas de super-salários. No último mês, vários veículos de imprensa publicaram matérias mostrando a realidade do trabalhador do TRC nos Estados americanos. A falta de profissionais tem impactado setores da economia, e, mesmo com tanta oferta, é desafiador conseguir um profissional que feche contrato.

Tanto jovens quanto idosos estão na mira das empresas. A oferta chega a R$ 300 mil ao ano, com treinamento pago para tirar a carteira de motorista comercial. Em um dos casos relatados pelo jornal “Gazeta do Povo”, que publicou reportagem produzida pelo periódico americano “Washington Post”, um senhor de 87 anos teria que dirigir um caminhão de 18 rodas pelos EUA por um ano por cerca de R$ 170 mil/ano. O Congresso americano, por outro lado, propõe a redução da idade mínima para dirigir caminhões em rotas interestaduais. Hoje, são 21 anos, e a proposta é baixar para 18. O projeto ainda está em discussão.

As ofertas tentadoras são reflexo do cenário econômico do país. A taxa de desemprego nos EUA está no nível mais baixo dos últimos 18 anos, chegando a 3,8%, segundo o Departamento do Trabalho. Somente no mês de maio último, foram criados 223 mil postos de trabalho a mais do que o previsto. Com muito emprego, os salários tendem a aumentar. Os profissionais mais qualificados agradecem. É assim que eles são mais valorizados e procurados.

No caso das empresas de transporte, além de altos salários, elas oferecem benefícios. A indústria está em forte produção e já gerou mais de 60 mil empregos neste ano. O resultado é a necessidade cada vez maior do transporte de cargas rodoviário. Sem o caminhão, grandes empresas têm suas entregas de mercadorias afetadas. Uma delas, citada pelo “Gazeta do Povo”, é a Amazon, e-commerce transnacional que atrai mais de 65 milhões de clientes para seu site todos os meses nos Estados Unidos.

Aos olhos de quem enfrenta uma crise econômica e fretes com valores abaixo do necessário, como os brasileiros, a situação norte-americana é positiva. No entanto, economistas americanos avaliam que não. Que a falta de motoristas e o excesso de mercadoria a ser entregue podem afundar a economia do país.

A principal avaliação é que os produtos precisam ser movimentados com a rapidez de antes. Caso contrário, ocorrerá algo semelhante ao que aconteceu no Brasil durante a greve dos caminhoneiros: mercadoria parada significa preços elevados no mercado. A competição por profissionais desse segmento nos Estados Unidos pode levar a nação a enfrentar uma inflação descontrolada, promovendo recessão, conforme avaliam economistas, como Peter Boockvar, diretor de investimentos do Bleakley Advisory Group, ouvido pela “Gazeta”.

Recusa

Mas, por que, afinal, os americanos recusam a profissão? Os problemas são os mesmos vistos no Brasil: estradas perigosas, uma profissão de risco, muito tempo fora de casa, alimentação de alto valor calórico, entre outros. Segundo dados do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, a profissão de motorista de caminhão é uma das mais perigosas. Foram mais de mil mortes em 2016. Muitos relatam o tempo fora de casa como um empecilho, principalmente para quem tem filhos.

Nos Estados Unidos, os caminhões são responsáveis por mais de 70% do transporte de cargas. Além da Amazon, outra grande empresa que tem um tráfego intenso de mercadorias pelo país é o WalMart. E todas já estão preocupadas com o aumento dos custos que a falta de transporte tem gerado.

O jornal americano “The Wall Street Journal” ouviu empresas sobre o problema. “Enfrentamos contratempos significativos com o frete na América do Norte neste ano”, disse a vice-presidente de Finanças da Coca-Cola, Kathy Waller. “O setor de caminhões está passando por uma grave crise. Faltam motoristas na era da Amazon”, afirmou Robert Csongor, vice-presidente da fabricante de processadores e chips Nvidia.

Americanos consideram as estradas do país perigosas e a profissão, de risco.

Qualificação

De acordo com reportagem da BBC, o economista-chefe da American Trucking Associations (ATA), entidade que representa os caminhoneiros nos Estados Unidos, Bob Costello, explica que o problema não é somente a quantidade de profissionais, mas a qualidade. Levantamento feito pela ATA indica que 88% das empresas recebem candidatos, mas que eles não têm a qualificação necessária. Empresários relatam que as seguradoras exigem que sejam contratados motoristas com, no mínimo, dois anos de habilitação e sem multa, o que elimina parte das pessoas.

 

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