Glaucoma: cegueira sorrateira

Doença dos olhos pode ser controlada quando diagnosticada em seu início

Saúde / 19 de Agosto de 2016 / 0 Comentários
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Cerca de 2 milhões de brasileiros sofrem de glaucoma, uma doença ocular indolor que aumenta a pressão dos olhos, podendo lesionar a estrutura mais delicada que eles possuem, o nervo ótico. Esse, diferentemente de outro tipo de nervo, como, por exemplo, o do dente, que, se for afetado por uma cárie, provoca muita dor no indivíduo, não causa nenhum tipo de dor. “A pressão pode estar muito elevada e a pessoa  não  perceber nada. Outro problema dessa doença é que, ao longo do tempo, ela vai machucando o nervo. Essa lesão, inicialmente, afeta a visão lateral da pessoa. Então, por exemplo, quando um caminhoneiro está dirigindo, ele olha para frente, vê o carro adiante, bem como sua placa e não fica tão atento ao que está em suas laterais. A atenção maior dele é o centro. Quando esse profissional renova a carteira de habilitação, coloca os olhos dentro de um aparelho e olha centralmente para ler as letrinhas. Portanto, não é avaliada sua visão lateral. E é essa que, aos poucos, vai sendo corrompida”, explica Emílio Suzuki Junior, oftalmologista especialista em glaucoma, médico do Instituto de Olhos Pampulha e secretário geral da Sociedade Brasileira de Glaucoma.

Suzuki afirma que é muito comum algumas pessoas chegarem ao consultório sem terem percebido que estavam com lesões gravíssimas de glaucoma. Inclusive, algumas chegam até cegas de um dos olhos, acreditando que o problema será solucionado com óculos. Por isso, o glaucoma é uma doença muito grave, já que depende exclusivamente do diagnóstico precoce, o qual deve ser feito apenas pelo médico oftalmologista, único profissional habilitado para detectar esse mal. “Dos 2 milhões de brasileiros que possuem glaucoma, muitos nem sabem que a têm. Olha só que perigo! Muitos não têm acesso à saúde, nem ao oftalmologista e  são avaliados por pessoas que não são profissionais. Isso é muito grave”, alerta o médico.

 

Riscos

O glaucoma costuma atingir pessoas acima de 40 anos. Muito embora existam bebês que nascem com a doença, há uma incidência maior de casos em pessoas afrodescendentes e naquelas com histórico de glaucoma na família. Pacientes com miopia, com grau para longe, também são mais afetados pelo glaucoma. Os diabéticos e os hipertensos, assim como pessoas com artrite e artrose, que usam muitos medicamentos à base de cortisona, também possuem mais chance de ter glaucoma. Quem teve traumatismo no olho por conta, por exemplo, de uma bolada, um soco ou uma pancada tem mais possibilidade de desenvolver glaucoma.

“Agora, para saber se essa pessoa vai ter glaucoma, realmente ela precisará ir ao oftalmologista. Esse profissional vai fazer um exame que mede a pressão e avalia o fundo do olho e o nervo. Na consulta, o nervo é avaliado minuciosamente, e os indivíduos com suspeição da doença são arrolados a fazer um exame mais preciso para confirmar o glaucoma. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor será para se preservar a visão. Se eu tiver um paciente com 5% de perda de visão devido ao glaucoma, eu consigo fazer o diagnóstico e receitar um  medicamento. Após isso, essa pessoa não vai perder mais nada da visão. Mas eu não posso recuperar o que ele perdeu. Por outro lado, felizmente, a perda não irá evoluir. O glaucoma não é uma doença reversível, porém é totalmente estancável. É uma enfermidade que não se pode deixar evoluir, que pode ser prevenida”, explica.

Mal irreversível se não tratado

O glaucoma é a primeira causa de cegueira irreversível do mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A primeira causa geral é a catarata. Porém, nesse caso, depois de uma cirurgia, o paciente volta a enxergar. Com o glaucoma, não. Ele causa a cegueira que não é possível reverter. Logo, acaba sendo a primeira causa irreversível de cegueira no mundo. Isso impacta o paciente, a família e todos os tipos de governo porque essas pessoas vão se tornar dependentes de pensões e de outras pessoas.

Feito o diagnóstico, o tratamento é muito simples. Mais de 80% dos casos são tratados com o uso contínuo de colírios.. “Mantendo-se a pressão sob controle, a vida segue normal. Para casos iniciais, não há restrição nenhuma, nem mesmo dirigir. Já para os avançados, geralmente há alguns impedimentos, como a direção de  veículo. Os motoristas de caminhão, ônibus e táxis devem, portanto, tomar um cuidado maior, uma vez que dependem da visão para seu sustento. O glaucoma é uma doença como o diabetes ou a hipertensão arterial. Se você não se cuida, morre. Nesse caso, a visão morre. É uma doença crônica, que precisa de tratamento conduzido por um oftalmologista. Não há terapia, milagre, atividade física ou alimentação que vá reduzir o glaucoma ou evitar seu aparecimento. A enfermidade hoje não é mais uma sentença de cegueira”, conclui Emílio. 

O secretário geral da Sociedade Brasileira de Glaucoma é oftalomologista especialista em glaucoma.

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