Hobby: salvar vidas

Integrantes do Corpo de Bombeiro Civil Voluntário de Cristina, em Minas Gerais, arriscam-se pela segurança do próximo

Mobilização / 07 de Julho de 2016 / 0 Comentários
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Foi a partir de uma promessa para Nossa Senhora Aparecida que o mineiro Cleber Oliveira Santos se tornou presidente e coordenador geral do Corpo de Bombeiro Civil Voluntário da cidade mineira de Cristina, distante quase 400 km de Belo Horizonte. Ele conversou com a revista Entrevias sobre o trabalho desenvolvido pelo  grupo.

Entrevias: Quando e como surgiu o Corpo de Bombeiro Civil Voluntário de Cristina (MG)?

Cleber Oliveira Santos: Surgiu após um grave acidente de automóvel ocorrido quando eu tinha de 23 para 24 anos. Foi na MGC-383, próximo a Maria da Fé (MG). Ainda em recuperação, resolvi fazer uma promessa para Nossa Senhora Aparecida: acaso ficasse bom, eu faria algo em prol da vida. Em um primeiro momento, pensei na Fundação Hospitalar de Cristina, mas não tive êxito. Então, em conversa com uma amiga técnica de enfermagem, pensei em formar um grupo de resgate, para qualquer tipo de acidente, que prestasse o primeiro atendimento no local. Em 2011, eu, essa minha amiga, Fabiana Aparecida, e seu esposo e enfermeiro, Luís Fernando, começamos a fazer um curso de 30 horas para nos tornarmos socorristas. O curso foi ministrado por um enfermeiro da GS Resgate Voluntário de BH.

EV: Como funciona o trabalho do grupo? Que tipo de resgate/salvamento vocês fazem? Enfim, nos dê detalhes que expliquem o cotidiano dos voluntários.

COS: O trabalho funciona de forma voluntária. Nós temos horários não específicos para os atendimentos. Somente nos fins de semana e nos feriados são feitos plantões. São realizados diversos tipos de salvamento: resgates veicular e aquático em áreas de difícil acesso, urgências e combates a incêndios. Dentro dos sinistros, nós aprendemos a fazer de tudo um pouco e, quando não temos condições de atender, isolamos a área até a chegada dos bombeiros militares – em quase todas as ocorrências, nós os chamamos ou ao Samu. Se o estado da vítima é muito grave e percebemos que ela não conseguirá suportar aguardar a chegada das entidades, nós a removemos via ambulância do hospital de Cristina até o médico de plantão, obedecendo aos critérios e aos protocolos de atendimento. 

EV: Quantas pessoas já foram beneficiadas/resgatadas desde o início das atividades?

COS: Parece um número baixo perante o tempo e outras entidades, mas levamos em conta três catástrofes: dois temporais fortes e com grande índice pluviométrico em apenas uma hora e meia, e uma chuva de três dias sem parar – o resultado afetou mais de 600 pessoas. Felizmente, conseguimos resgatar cerca de 450 pessoas, auxiliando com poucas roupas, documentos, remédios e cobertores. Em muitas das residências, ainda retiramos veículos e levantamos móveis.

EV: Vocês também ajudam na localização de pessoas que faleceram em acidentes? Há números?

COS: Sim, ajudamos dentro de nossa capacidade de materiais e equipamentos. Já auxiliamos em situações que apresentaram seis vítimas de óbito.

EV: Em que área o grupo atua?

COS: O grupamento atua dentro do município de Cristina, em Minas Gerais, onde temos cerca de 60 km nas rodovias MGC-383 e MG-347. Ainda possuímos exatos 750 km de estradas rurais de chão.

EV: Qual foi o resgate mais difícil em que o grupo já atuou até hoje?

COS: Tivemos uma colisão frontal entre dois veículos baixos, um com quatro vítimas e outro com cinco. Justamente nesse dia, estávamos somente com dois socorristas. Logo, acionamos o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e, de imediato, fomos para o local. Eliminamos todo o risco de um curto incêndio, já que a Polícia Militar sinalizou o local. Na sequência, iniciamos as avaliações primária e secundária nas vítimas – todas foram imobilizadas com colar cervical, sendo que duas delas, do sexo masculino, saíram ilesas, sem ferimentos e arranhões. Já uma vítima, do sexo feminino, ficou presa nas ferragens, tendo sido liberada com a chegada dos bombeiros. As outras pessoas sofreram fraturas e escoriações.

EV: Quem pode fazer parte do grupo? Como funciona o treinamento para habilitar um cidadão que tenha interesse em ajudar?

COS: Pode fazer parte do grupo qualquer bombeiro ou socorrista que tenha uma gama de cursos e possa comprová-los.Quem ainda não tem e quer ser voluntário deve passar por esses cursos para que possa exercer os trabalhos prestando bons atendimentos, em concordância com os protocolos.

EV: É um trabalho perigoso?

COS: Com certeza, é um trabalho de risco, ainda que o voluntário esteja dentro das normas regulamentadoras e porte equipamentos de proteção individual. A cada saída para uma ocorrência, todas as explicações são dadas para todos do grupo, deixando-o em alerta e auxiliando na segurança.

EV: O que há de mais gratificante nesse trabalho?

COS: O trabalho voluntário, além de ter um valor social muito grande, é de extrema importância. Ele nos dá a alegria de ver que pessoas foram ajudadas e estão melhores depois de alguma situação difícil. Enfim, é um trabalho que faz a diferença na vida de quem é atendido. É gratificante e recompensador. 

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