Motores aquecidos

Teve início a contagem regressiva para a temporada 2017 da Fórmula Truck, considerada a categoria mais popular do automobilismo sul-americano. No dia 19 de março, os caminhões mais velozes do mundo vão acelerar no Velopark, autódromo de Nova Santa Rita, no Rio Grande do Sul. A confirmação do calendário de provas foi feita no fim do mês passado, após extensa rodada de negociações entre a presidente da marca, Neusa Navarro, e dirigentes da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) – entidade que rege o esporte a motor no Brasil – para a renovação do contrato de organização do evento.

“Criamos a Fórmula Truck há mais de 20 anos e tínhamos certeza de que tudo seria resolvido dessa maneira. Afinal, sempre organizamos a categoria e temos toda a estrutura para atender muito bem a nosso público, que é fiel e o maior da América do Sul. Toda a família Fórmula Truck está feliz com esse resultado”, assegura Neusa, viúva do criador da competição, Aurélio Batista Félix.

Na 22ª edição do evento, a categoria terá duas corridas fora do país: uma delas será em Rivera, no Uruguai, na fronteira com Santana do Livramento, também no Rio Grande do Sul, em 9 de abril. A cidade é estreante na F-Truck, enquanto a Argentina volta a integrar o roteiro da competição, em 5 de novembro (ainda não houve confirmação da localidade).

Caruaru, em Pernambuco, também retorna ao calendário neste ano, e Guaporé, na Serra Gaúcha, está mantida para outubro, mês tradicional para a prova, segundo os organizadores. O encerramento da temporada está previsto para acontecer no último domingo de novembro ou no primeiro domingo de dezembro, no autódromo de Curitiba, no Paraná.

“Demoramos um pouco mais para soltar nosso calendário neste ano a fim de definirmos bem as datas e tentarmos evitar mudanças de cidades, algo que independe de nossa vontade. Assim, estamos com tudo praticamente definido para 2017”, afirma a presidente da Fórmula Truck.

Temporada 2016

No ano passado, o piloto paulista Felipe Giaffone, de 41 anos, foi o campeão da temporada. Na décima e última etapa, disputada no Autódromo Ayrton Senna, em Londrina, no Paraná, em 10 de dezembro último, ele conquistou o segundo lugar depois de fazer a pole position e de se igualar ao recordista Wellington Cirino (que já largou 29 vezes na ponta). Com a vitória, o piloto tornou-se tetracampeão da categoria, após um jejum de cinco anos.

Herdeiro de um sobrenome reverenciado no automobilismo nacional – Felipe é filho de Zeca Giaffone e sobrinho de Affonso Giaffone –, ele já havia conquistado o lugar mais alto do pódio nas temporadas de 2007, 2009 e 2011. Em 2016, o piloto ainda garantiu a terceira vitória consecutiva da fabricante alemã Volkswagen na Fórmula Truck. O também paulista Paulo Salustiano ficou com a vice-liderança da temporada, marcando 34 pontos a menos do que o campeão. A terceira posição foi para o curitibano Diogo Pachenki.

 História da F-Truck

A história da Fórmula Truck confunde-se com a biografia de Aurélio Batista Félix, idealizador da categoria. Apaixonado por caminhões desde criança, o santista era filho de caminhoneiro e, aos 11 anos, já era considerado um expert no assunto. Sete anos mais tarde, ele assumiu a boleia do pai, adoentado, rumo ao porto de São Sebastião, no litoral Norte de São Paulo, a bordo de veículos que pesavam até dez toneladas.

Aos 29 anos, Félix participou da 1ª Copa Brasil de Caminhões, promovida pelo jornalista português Francisco Santos, no autódromo de Cascavel, no Paraná. O evento, no entanto, foi marcado pela morte de Jeferson Ribeiro da Fonseca, o que acabou freando a realização desse tipo de competição no Brasil.

A ideia de criar uma nova categoria voltou a ganhar aceleração em 1993, com a criação da Racing Truck, na sede da Transportadora ABF, de Félix, em Santos. Aos poucos, ele ia retirando veículos da própria frota e fazendo modificações para que eles pudessem correr nas pistas. Um ano mais tarde, a F-Truck foi oficialmente apresentada a empresários, autoridades esportivas e imprensa especializada. Em 1995, a categoria já atraía aproximadamente 15 mil pessoas nas exibições.

A homologação e a criação do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck vieram no ano seguinte. Em 2008, na 13ª edição, no entanto, Aurélio Félix sentiu-se mal logo depois da primeira corrida da temporada, realizada em Guaporé, e precisou ser submetido a uma cirurgia cardíaca. Passados três dias, quando se preparava para receber alta hospitalar, ele passou mal novamente, foi diagnosticado com uma grave hemorragia estomacal e não resistiu. Aos 50 anos, ele deixou esposa e três filhos.

Em 2009, já sob o comando de Neusa Navarro, o sonho de Félix de levar a Fórmula Truck para fora do país foi realizado, e a categoria promoveu uma prova no autódromo Juan Y Oscar Galvez, em Buenos Aires, na Argentina, com recorde de público: 70 mil pessoas.