O BOPE DAS ESTRADAS

Núcleo de Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal de Minas Gerais atua com inteligência, planejamento e precisão nas rodovias, tornando-se a equipe mais temida do asfalto

Capa / 16 de Outubro de 2017 / 0 Comentários
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Recentemente, agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de Pouso Alegre, no Sul de Minas, flagraram integrantes de uma quadrilha fazendo o transbordo de um carregamento de cigarros numa estrada vicinal. Duas pessoas, o motorista e o ajudante do veículo de carga tomado de assalto, foram feitas reféns pelos bandidos. Houve troca de tiros, e um dos envolvidos, um homem de 34 anos, apontado como um dos principais assaltantes de carga no Estado, morreu. Em outra ocorrência, no mês de agosto, policiais apreenderam em Minas 632 kg de maconha em carreta vinda do Mato Grosso do Sul.

O que essas operações têm em comum? A inteligência, o planejamento e a precisão do Núcleo de Operações Especiais (NOE) da Superintendência Regional da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas Gerais. O grupo começou sua atuação em 2007, com um efetivo de apenas seis policiais. Inicialmente, essa equipe foi criada para atuar especificamente no enfrentamento a roubos de veículos e pessoas na região metropolitana de Belo Horizonte.

Contrabando é uma das atuações mais efetivas da PRF e trabalhada pelos núcleos especiais

Na primeira semana de trabalho, apreenderam armas e prenderam criminosos responsáveis por grande parte dos assaltos que ocorriam no trecho da BR-381 em Betim. Em seguida, a equipe foi convocada para atuar na operação dos Jogos Pan-Americanos, na cidade do Rio de Janeiro, e, desde então, participa de importantes ações de âmbito nacional, como a Rio +20 (2012), a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos do ano passado.

“Fornecemos suporte de efetivo especializado à Coordenação Geral de Operações (CGO) do Departamento de Polícia Rodoviária Federal para atuação em operações específicas em todo o território nacional. Os objetivos do NOE são planejar, coordenar e executar operações de enfrentamento aos crimes de roubo e furto de veículos e cargas, tráfico de substâncias entorpecentes e de armas, munições e produtos controlados, contrabando, descaminho, falsificação de produtos, adulteração de combustíveis, outros crimes contra o patrimônio e demais delitos praticados nas rodovias e nas estradas federais”, explica o chefe do NOE/MG, Teles Lopes Basílio.

Segundo ele, o núcleo também age em ações específicas no combate ao trabalho escravo, à exploração sexual infantojuvenil, ao tráfico de seres humanos, aos crimes ambientais, à lavagem de dinheiro e ao crime organizado, bem como realiza operações temáticas de enfrentamento ao crime nas delegacias da PRF de Minas. A equipe do NOE/MG promove ainda eventos de treinamento, nivelamento e atualização de procedimentos policiais de combate ao crime junto aos Grupos de Patrulhamento Tático (GPT) dessas delegacias.

Treinamento intensivo

Para ser integrante do NOE, o policial faz o Curso de Técnicas Policiais de Combate ao Crime (TPCC) e participa efetivamente do projeto de capacitação continuada do núcleo. O chefe do NOE conta que nessa formação é colocada em prática a chamada Operação de Policiamento Especializado (OPE), em que são apresentados procedimentos e condutas com o intuito de deixar o policial mais atualizado e preparado para enfrentar as constantes evolução e ousadia das atividades criminosas, sendo ministradas instruções que vão desde abordagens de alto risco a diferentes tipos de veículos e edificações até técnicas avançadas de fiscalização.

“A formação é promovida pelo próprio NOE e também conta com a participação dos integrantes dos Grupos de Patrulhamento Tático das delegacias. Os policiais devem se especializar em algumas temáticas, como cursos de Operações com Cães de Faro de Entorpecente e de Operações de Controle de Distúrbios da PRF”, acrescenta.

Atualmente, o NOE/MG é composto por 14 policiais, sendo o chefe do núcleo e seu substituto, oito profissionais que compõem as equipes táticas e quatro do Grupo de Operações com Cães (GOC). “Apesar de o efetivo ter evoluído, ainda é um número muito baixo, distante do ideal para um Núcleo de Operações Especiais de uma Superintendência da PRF como a do Estado de Minas Gerais, que possui a maior malha rodoviária federal do país e com grande quantidade de demandas criminais”, analisa o líder do grupo.

Um caminho para dar conta das demandas é a atuação de todos os integrantes como planejadores, executores e coordenadores de operações. Assim, o policial membro do NOE pode ser escalado para atuar como um gestor operacional e pode exercer as atividades de um operador tático.

O efetivo do NOE/MG também recebeu capacitação e especialização em diversas áreas, tornando o núcleo capaz de lidar com diversas atividades, como as de controle de distúrbios (choque), ações táticas, segurança de autoridades, resgate tático, patrulhamento de áreas urbanas e rurais de alto risco, operações em áreas de montanha e outras.

Trabalho diferenciado

A possibilidade de atuação transversal e a formação permanente foram fundamentais para que o policial rodoviário federal Marcos Fernando de Morais se interessasse em integrar o NOE/MG. Em 2012, ele começou a fazer parte do efetivo do grupo e, atualmente, é chefe substituto. “Trabalhava na área de combate ao crime quando recebi o convite para fazer parte do núcleo. Além de fazerem o treinamento intensivo e o trabalho em parceria, os policiais trabalham de forma mais estruturada. Há muito estudo das situações para planejar as operações”, salienta Morais.

A inteligência é baseada na análise profunda dos casos e em bastante monitoramento para solucionar as missões. Os policiais também têm um papel formador de outros profissionais. Morais conta que a oportunidade de treinar gente de outras áreas é gratificante e possibilita a troca de experiência.

Conquistas

A gestão do NOE/MG fica sob a responsabilidade do chefe e de seu substituto, e um dos resultados da gestão foi a construção da Base do Grupo de Operações com Cães (GOC) do núcleo, localizada em Contagem, na região metropolitana da capital mineira, inaugurada em 2015. Outra conquista foi a implementação, no mês de agosto deste ano, da Base GOC da delegacia da PRF de Pouso Alegre (MG). Essas duas unidades operacionais representam um ganho, pois otimizam o enfrentamento ao tráfico de drogas nas rodovias federais de Minas.

Entre os destaques da atuação do NOE, o chefe Teles Lopes Basílio apresenta os resultados operacionais de apreensões e prisões. Foram criadas e consolidadas várias operações temáticas com foco no combate ao crime em Minas, as quais, posteriormente, foram replicadas em outras regionais do país. Essas operações, além de reprimirem ações criminosas e favorecerem a redução de índices de criminalidade, propiciam a capacitação e a motivação do efetivo envolvido.

Graças à eficácia do trabalho, a procura está cada vez maior por parte de outras instituições no sentido de contar com a atuação do núcleo. “Cito a Receita Federal, o Ministério Público Federal, o Ministério do Trabalho e Emprego, a Polícia Militar, além das constantes convocações da Coordenação Geral de Operações do DPRF para operações nacionais”, diz Teles.

Desafios

Basílio afirma que a equipe está em busca permanente por mais capacitação, equipamentos e armamentos modernos, além de viaturas que correspondam à demanda específica do trabalho. Contudo, o grande desafio do NOE/MG é a busca da excelência em todas as suas atividades desenvolvidas, com vistas ao reconhecimento cada vez maior da sociedade e também da instituição PRF.

“Precisamos aumentar nosso efetivo, que, atualmente, não é suficiente para fazer frente à quantidade de demandas criminais existentes, tanto dentro como fora do Estado. Por outro lado, trabalhamos ainda em busca de melhores instalações físicas, equipamentos, viaturas e armamentos mais modernos, capazes de subsidiar os policiais do núcleo com aparato e tecnologia necessários para o enfrentamento à criminalidade”, pontua.

Ele planeja aumentar o número de profissionais do NOE a fim de desenvolver mais operações e reduzir o tempo de resposta ao atendimento de demandas emergenciais, e, assim, contribuir para a queda das taxas de criminalidade.

Outra frente é a capacitação de mais policiais em Minas, incentivando a criação de mais Grupos de Patrulhamento Tático nas delegacias da PRF, bem como o fortalecimento e o aperfeiçoamento dos que já existem. Para isso, espera a construção de uma nova base operacional com melhor estrutura de trabalho.

Para o presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais (Sintrauto), Carlos Roesel, seria importante não só para quem trabalha nas rodovias, mas para toda a população que houvesse mais investimentos na área de inteligência rodoviária. "Fortalecer grupos como o NOE é fundamental para reduzirmos significativamente os crimes nas rodovias. Hoje, sofremos muito com a falta de segurança e o elevado índice de roubo de cargas nas estradas. Com núcleos de operações especiais, é possível identificar melhor como as quadrilhas agem e combater o crime, mas é importante que se tenha mais investimento para que eles atuem mais efetivamente", afirma Roesel.

Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Gladstone Viana Diniz Lobato, a PRF, por meio do NOE, vem colaborando muito com o grupo técnico de segurança do sindicato. "Com informações de inteligência, a PRF realiza um trabalho de suma importância em nossas rodovias, principalmente no combate ao roubo de carga que tornou-se um dos graves problemas do nosso setor de transporte. Devemos reafirmar que mesmo com o corte de verba imposto pelo governo federal este núcleo continua a mostrar um grande serviço com resultados muito positivos ao setor de transporte de carga", afirmou.

Nas estradas

Hoje, uma das operações de que o NOE/MG participa é a Égide, que foi desencadeada por determinação do governo federal depois que as empresas de transporte de carga que trafegam pelas estradas do Rio de Janeiro ameaçaram paralisar o serviço no Estado caso os roubos a caminhão não fossem contidos, tendo como consequência o desabastecimento no comércio.

O nome dado à operação vem da mitologia grega. Égide era o escudo que pertencia à deusa Palas Atenas e passou a significar proteção, aquilo que pode servir para amparar, o que oferece defesa, que é o objetivo da operação em relação aos usuários das rodovias federais.

A operação iniciou em 20 de julho e busca assegurar a livre circulação nas rodovias  federais, contribuindo para a redução da criminalidade e da violência no país e aumentando a sensação de segurança dos usuários das estradas.

A PRF reforçou o policiamento combatendo crimes de roubo nas rodovias federais da região metropolitana do Rio e nas divisas com os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Assim, há mais fiscalizações por meio de abordagens a veículos e pessoas em comportamento suspeito, e os policiais rodoviários federais concentram esforços em atividades preventivas e repressivas em pontos estratégicos para o enfrentamento à criminalidade em geral. 

Ao se deparar com alguma anormalidade, pessoa ou veículo em atitude suspeita, ligue para o 191 e comunique. “Estamos atuando nas rodovias e nas estradas federais com equipes especializadas no combate ao crime e contamos com o apoio da sociedade, a quem servimos. Assim, quaisquer informações relevantes sobre ações criminosas em nosso Estado são bem-vindas para que possamos dar mais efetividade ao nosso trabalho”, conclui o chefe do NOE/MG, Teles Lopes Basílio.

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