Pequena notável

Curvelo, município da região Central de Minas, é o único com menos de 100 mil habitantes a aparecer em ranking de cidades brasileiras com melhor mobilidade

Mobilidade / 29 de Outubro de 2018 / 0 Comentários
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Problemas de mobilidade geralmente são associados às grandes metrópoles, mas muitos deles também são encontrados em municípios com menos de 100 mil habitantes e, nesses casos, com um agravante: costumam ser ignorados pelo poder público. Mas não foi o que ocorreu com Curvelo, na região Central de Minas, que surpreendeu ao figurar entre as dez melhores classificadas no Brasil no quesito mobilidade.

A Connected Smart Cities – plataforma que visa colaborar para que cidades brasileiras possam se tornar mais inteligentes e conectadas – publicou um ranking a partir de um estudo acerca das melhores soluções de mobilidade. O município mineiro, com cerca de 80 mil habitantes, foi o único, não incluindo Belo Horizonte, a aparecer entre os dez primeiros colocados (os nove primeiros são capitais).

A classificação considerou oito critérios: proporção entre ônibus e automóveis; idade média da frota dos meios de transporte públicos; quantidade de ônibus por habitante; variedade dos meios de transporte; extensão de ciclovias; rampas para cadeirantes (acessibilidade); número de voos semanais (conectividade com outras cidades); e transporte rodoviário.

Já entre os 500 municípios com até 100 mil habitantes analisados pelo estudo, Curvelo ficou com o primeiro lugar. “Nosso conceito não é focado em tecnologia, mas em planejamento e em gestão de cidade inteligente. Então, não necessariamente uma cidade pequena precisa de uma solução similar a uma cidade grande, com transporte público de massa”, afirma o especialista em mobilidade Willian Rigon, diretor da empresa Urban Systems e responsável pela pesquisa da Connected Smart Cities.

Destaques

No caso de Curvelo, o que chamou a atenção foram as proporções de ônibus por automóvel (98 para cada carro particular) e de ônibus por habitante (21 para cada mil), além da idade média da frota (inferior à da média nacional) e da acessibilidade das calçadas.

Segundo o professor do Centro de Estudos em Geociências da Faculdade Interdisciplinar em Humanidades da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) Douglas Sathler, a solução para os problemas de mobilidade nas cidades grandes pode passar pelas médias e pequenas desde que haja equilíbrio entre elas.

“O que acontece em uma cidade média é fundamental para grandes cidades também. Você não teria um deslocamento massivo de migrantes nas décadas de 1970 e 1980 para São Paulo se houvesse polos regionais em fase de consolidação no Nordeste”, avalia.

Ainda de acordo com o professor da UFVJM, nos últimos anos, tem-se observado um movimento de deslocamento da população das cidades grandes para as intermediárias, mas não pelos benefícios que o destino oferece e, sim, pelos problemas encontrados no ponto de origem.

“O que está acontecendo no Brasil é que muitas cidades de médio porte estão ganhando alguma notoriedade, porque existe muito mais uma fuga de grandes centros urbanos de atividades econômicas ou industriais, já que há muitas penalidades negativas nesses locais”, afirma.

Outro foco

Embora tenha se destacado no levantamento, Curvelo está longe de ser regra no cenário nacional. Nos municípios pequenos, os empecilhos na mobilidade não são menores do que nos grandes centros, apenas diferentes, conforme apontado por Rigon, da Urban Systems.

“Você tem outros tipos de problema, que são a falta de acesso ao transporte público, o tempo de demora, a baixa qualidade, porque as frotas antiquadas das grandes cidades são vendidas para cidades pequenas”, destaca.

O especialista continua: enquanto nas metrópoles os ônibus passam lotados nos pontos, nas cidades médias e pequenas sobram assentos, mas a frequência com que os coletivos passam é muito menor, chegando a dois ou quatro horários por dia. “E faltam alternativas ao modo convencional”, diz ele.

“Cidades pequenas, quando são atendidas por modais de transporte de massa, como metrô e trem, é porque fazem parte de alguma região metropolitana”, pontua o responsável pela Connected Smart Cities.

O professor Sathler emenda: “É preciso, sim, pensar políticas de transporte para cidades grandes, mas para cidades de médio porte também. Não há  necessidade imediata de grandes linhas de metrô em uma cidade de 100 mil habitantes, mas você poderia usar o VLT [veículos leves sobre trilhos], criar corredores de ônibus para tornar o local mais democrático para os cidadãos”. (Com a Agência Brasil)

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