Reajuste da noite para o dia

Nova política de preços da Petrobras faz consumidor ser pego de surpresa na hora de abastecer. Em seis meses de vigência, alta foi de 12%.

Finanças / 06 de Fevereiro de 2018 / 0 Comentários
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Uma nova política de reajuste de preços do combustível pela Petrobras está em vigor desde julho do ano passado. Desde então, o consumidor, especialmente o motorista, dorme com um valor do litro do diesel e acorda com outro, geralmente mais elevado. O impacto é imediato no custo operacional do transportador, que aumenta a cada anúncio. A mudança permite que a Petrobras realize reajustes diários nos preços de venda dos combustíveis das refinarias para as distribuidoras.

Até o dia 24 de janeiro, a empresa havia anunciado 16 alterações no valor do diesel somente em 2018. Após altas consecutivas desde o anúncio da nova política, houve três quedas, acumulando -1,9% até o dia 24. No entanto, até dezembro de 2017, o diesel acumulou alta de 12%. O valor médio para o consumidor final saiu de R$ 2,97 em julho para R$ 3,30 na primeira quinzena do último mês do ano passado. Foram 137 alterações nos preços tanto do diesel quanto da gasolina desde a mudança.

Em dezembro, o presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Clésio Andrade, manifestou preocupação com os reajustes sucessivos em vigor desde julho de 2017, especialmente no impacto causado ao transportador. Segundo ele, a CNT estuda medidas que possam ser tomadas contra a alteração.

“O modo com que a Petrobras reajusta preços dos combustíveis, principalmente o óleo diesel, está sufocando o transportador brasileiro. É um grande absurdo, e o pior é que isso afeta quem faz circular a economia brasileira, que é o transporte de pessoas e de bens. Toda a economia está sendo prejudicada. Vamos adotar as medidas necessárias para resolver essa questão, sejam elas jurídicas, sejam políticas”, afirma Clésio Andrade.

Dados da Sondagem Expectativas Econômicas do Transportador 2017, feita pela CNT, 84,2% das empresas de transporte não concordam com essa política. Quase 90% dos empresários entrevistados não perceberam redução nos preços após a vigência da regra.

Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), André Braz, acredita que os aumentos serão temporários. Segundo ele, as quedas nos preços não eram sentidas pelo consumidor quando eles eram ajustados uma ou duas vezes ao ano. “A falta de uma política coerente de prática do preço que está acontecendo no mercado internacional nos lesa mais, nos deixa reféns de reajustes que caem de paraquedas vez ou outra”, diz.

Para o coordenador da Área de Serviços da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Carlos Confort, a novidade confunde o consumidor, que não consegue acompanhar as mudanças. “O ideal seriam alterações com periodicidade certa para permitir que os consumidores pudessem se preparar para isso. “A gente vê com certa preocupação porque, às vezes, o consumidor não consegue se planejar para esses aumentos e até controlar seus gastos para abastecer, os quais são gastos fixos e acabam ficando variáveis”, complementa.

A Petrobras justifica que a intenção é repassar com maior frequência as flutuações do câmbio e do petróleo e, com isso, permitir “maior aderência dos preços do mercado doméstico ao mercado internacional no curto prazo”, dando condições de competir de maneira “mais ágil e eficiente”. “Em busca de convergência no curto prazo com a paridade do mercado internacional, analisamos nossa participação no mercado interno e avaliamos frequentemente se haverá manutenção, redução ou aumento nos preços praticados nas refinarias”, explica a Petrobras.

A empresa informa ainda que a variação pode ser feita diariamente desde que fique dentro da faixa de 7% positivo e negativo. Segundo a Petrobras, os ajustes feitos nos anos anteriores não foram suficientes para acompanhar a volatilidade da taxa de câmbio e as cotações do petróleo e dos derivados. O problema, de acordo com especialistas, é que a conta recai sobre o consumidor. (Com a Agência Brasil e a Agência CNT de Notícias) 

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