Rodoanel: demanda urgente

Entidades ligadas ao transporte rodoviário de cargas criticam a morosidade do governo mineiro para tirar do papel o projeto de uma via alternativa ao Anel Rodoviário. Acordo firmado com a Vale pode acelerar o processo.

Estradas / 27 de Agosto de 2021 / 0 Comentários
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A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou, no fim de julho, a Lei 23.830, que autoriza o uso de recursos provenientes do acordo judicial firmado com a Vale pelo rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH. A matéria já foi sancionada pelo governador Romeu Zema (Novo). É daí que partirão os investimentos para a construção do Rodoanel da região metropolitana de Belo Horizonte.

O governo do Estado receberá R$ 11,06 bilhões. Desse montante, R$ 1,5 bilhão serão destinados aos 853 municípios de acordo com o número de habitantes de cada um. O total do acordo judicial feito com a mineradora ultrapassa os R$ 37 bilhões.

O recurso poderá ser empregado em várias demandas da população, a exemplo das ambientais e relativas a serviços públicos. Também foram autorizados investimentos na complementação dos recursos federais para a ampliação do metrô, na recuperação de rodovias em piores condições e em intervenções em hospitais regionais.

Enquanto a ALMG discute o projeto do Rodoanel, entidades ligadas ao transporte rodoviário de cargas reivindicam, em caráter de urgência, o início das obras da via que promete desafogar o Anel Rodoviário de Belo Horizonte e garantir mais segurança de tráfego aos trabalhadores do setor.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg) e a Federação das Empresas de Transporte de Cargas de Minas Gerais (Fetcemg) participaram das audiências públicas referentes ao Rodoanel e levaram propostas alinhadas ao edital de consulta pública. Segundo o presidente do Setcemg e vice-presidente da Fetcemg, Gladstone Lobato, é importante que a rodovia seja construída com toda a tecnologia disponível, além de pontos de parada e descanso, áreas de escape e pedágio tipo free-flow.

Segundo ele, o Rodoanel é uma obra urgente. “O transportador de Minas Gerais é altamente carente de infraestrutura. Nosso Estado tem um custo muito alto de transporte porque não temos estradas, vias de fácil acesso nem boa infraestrutura. As que temos são precárias. Nossa reivindicação é imensa para ver se essa obra sai logo. A gente só perde com essas amarras burocráticas jurídicas e do governo”, disse Gladstone.

O presidente do Setcemg é categórico quanto ao uso do dinheiro da tragédia de Brumadinho para a construção da via. “É uma vergonha para os políticos mineiros. Se não fosse essa tragédia, não ia ter Rodoanel? Quase 300 pessoas precisaram morrer para termos essa rodovia? O Anel Rodoviário é um atraso de vida, e essa obra é urgente”, afirmou, referindo-se à morte de 272 pessoas em decorrência do rompimento da barragem, em 25 de janeiro de 2019.

Apelo do setor

O presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais, Carlos Roesel, também lamenta o excesso de burocracia para que o Rodoanel saia do papel. Ele ressalta que o Estado precisa de vias melhores, com mais segurança e tecnologia. “Minas tem a maior malha viária do país e estradas ruins. Isso dificulta a circulação dos veículos, aumenta o custo e o risco de acidentes. O Rodoanel é uma obra urgente. É um absurdo ter que acontecer um desastre como o da barragem de Brumadinho para o Estado investir no Rodoanel, que é uma via estratégica e importante para o país”, afirmou Roesel.

Para o presidente do grupo de resgate voluntário Anjos do Asfalto-MG e vice-presidente da Prevenir Truck, Geraldo Eugênio de Assis, o processo de elaboração e aprovação do projeto do Rodoanel foi tão burocrático e moroso que, agora, o poder público conta com os recursos de uma tragédia para construir e entregar a via.

“O investimento em infraestrutura rodoviária precisa ser priorizado, e a concretização de todas as alças previstas no Rodoanel é urgente. A via vai aumentar a competitividade do Estado, proporcionar mais segurança aos caminhoneiros e reduzir custos. Não dá para um Estado como Minas Gerais ter como ligação entre as regiões uma avenida dentro da capital, que é o que virou o Anel Rodoviário”, ressaltou Assis.

A reivindicação geral é para que a nova rodovia tenha um padrão internacional de mobilidade, tecnologia e infraestrutura. O contorno apresentado pela Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade em audiências públicas tem 100 km de extensão e conta com pistas duplas, acostamentos, canteiros centrais e áreas de escape, passando por dez municípios da região metropolitana: Betim, Brumadinho, Contagem, Ibirité, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano.

A expectativa é que as obras fiquem prontas em 60 meses e sejam feitas por meio de uma parceria público-privada com concessão de 30 anos.

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