Saúde do motorista e sociedade agradecem

Especialista explica como a aplicação do exame toxicológico ajuda no combate às drogas nas estradas

Estradas / 05 de Outubro de 2016 / 0 Comentários
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O exame toxicológico de larga janela salva mais vidas do que se pode imaginar. Em longo relato para a Entrevias, Rodolfo Rizzotto, coordenador do programa SOS Estradas e do estudo “As drogas e os motoristas profissionais”, elucida questões fundamentais sobre a necessidade do exame e a relação entre drogas e caminhoneiros, bem como outros pontos essenciais dessa temática.

O especialista contextualiza que, nos Estados Unidos, os exames toxicológicos para motoristas são feitos desde 1988 e utilizados para várias finalidades.  Sua implementação na área de transportes, em 2006, uma empresa chamada J. B. Hunt foi a primeira a aplicar em grande escala esse exame, depois de terem ocorrido dois acidentes graves com motoristas detectados com o uso de cocaína. Nesse país, diferentemente do que acontece no Brasil, quando o motorista se envolve num acidente, não importa que não tenha sofrido nenhum ferimento, ele é obrigado a fazer um exame clínico, incluindo exame de sangue. Essa empresa aplicava o exame de urina, que era obrigatório, mas isso não surtia efeito. Então, o presidente da companhia avisou que não queria que esse tipo de problema ocorresse mais, e eles começaram a pesquisar até descobrirem o exame de larga janela, que já era feito por algumas transportadoras. Passaram a aplicá-lo, e o resultado foi extraordinário. Eles já realizaram mais de 100 mil exames nos últimos oito anos, e, após isso, não houve mais nenhum acidente com motorista sob o efeito de drogas. Essa é uma empresa com 20 mil caminhões, uma das maiores transportadoras do mundo.

No Brasil, exame de larga janela é uma tecnologia laboratorial utilizada há 15 anos pela Polícia Rodoviária Federal, pela Polícia Federal (nas admissões dos policiais) e também pelas companhias aéreas, para todas as pessoas que têm contato com a aeronave. O objetivo é  garantir a segurança no transporte.

Sua aplicação no transporte rodoviário começou a ser debatida no Congresso Nacional no momento da revogação da Lei 12.619/2012. Em 2015, a Lei 13.103 contemplou a implementação do exame. “Isso permite combater um problema que a gente conhece muito bem no Brasil, que é o uso da droga para se sobreviver. Ou seja, o caminhoneiro, na maioria dos casos, quando começa a utilizar a droga, seja anfetamina, seja cocaína, faz isso para sobreviver, não por lazer, como o playboy, no fim de semana. Esta é a loucura: a gente imaginar que um profissional, para sobreviver, precisa usar drogas. O problema são as várias implicações dessa atitude”, ressalta.

As drogas e as implicações nas estradas

O especialista salienta que o uso da droga impacta diretamente a saúde do profissional e ainda coloca em risco outras pessoas que circulam com ele na mesma via, inclusive em área urbana, porque está previsto que o exame seja aplicado também para motoristas de ônibus, de vans e do transporte escolar. “No caso dos caminhoneiros, a partir do momento em que eles usam a droga, envolvem-se com o mundo do crime. Você lida com traficantes, que participam de uma série de negócios na estrada. Então, os caminhoneiros começam, inicialmente, a fornecer informações – para pagar a droga, para pagar o traficante com quem eles têm uma dívida ou para conseguir a droga de graça – sobre a carga valiosa que um companheiro, por exemplo, está levando, o que vai auxiliando no roubo. Depois, eles passam a transportar pequenas quantidades de drogas. Numa carreta com 40 toneladas, esconder 50 quilos de cocaína não é algo  complicado. Só que a coisa começou a tomar uma dimensão  maior”, alerta.

Ele conta que, no início de agosto, a Polícia Federal prendeu, no Paraná, uma quadrilha que tinha 70 carretas que faziam o transporte regular de grãos e minérios para os portos juntamente com  drogas.

A concorrência desleal

Rodolfo destaca: “aí vem outro desdobramento. Quando o caminhoneiro faz uso de drogas, ele está promovendo  uma concorrência desleal porque ele aceita fazer uma viagem numa condição diferente da de quem não é usuário. Por isso, este não vai conseguir pegar a carga para transportá-la. Então, a pessoa que não tem o vício perde o frete. A transportadora que respeita seu profissional, que não tolera a droga, também perde o frete para aquela que faz vista grossa. Assim, essa concorrência desleal contribui para baixar o valor do transporte. Por quê? Porque, se eu aceito uma condição pior, eu baixo o valor, o que favorece o dono da carga que está explorando a mão de obra, o embarcador, principalmente em grandes grupos, que formam a maioria dos casos. Não estamos falando de pequenas empresas, estamos falando de multinacionais, que, muitas vezes, não têm cerimônia de explorar”.

A implementação do exame toxicológico, na opinião de Rizzotto, sem dúvida, é a única alternativa para se combaterem as drogas, pois obriga o indivíduo a não usá-las a fim de renovar a carteira de habilitação e até para ser empregado em algum lugar. “O efeito é extraordinário!”, finaliza.  

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