Sem perdão nas rodovias

Publicação da CNT mostra que o Brasil ainda engatinha na adoção de melhorias rodoviárias capazes de reduzir o alto índice de sinistros de trânsito ou de ao menos mitigar as consequências deles

Segurança / 26 de Maio de 2021 / 0 Comentários
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A importância do planejamento e da adequação da infraestrutura viária para a redução de erros humanos que resultam em acidentes é o tema principal do informe “Transporte em Foco”, publicado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em março. O documento aponta a construção de áreas de escape nas vias e a instalação de dispositivos de contenção como algumas das principais medidas para um trânsito mais seguro.

“A melhoria na segurança viária em decorrência de investimentos tem sido uma prática em vários países. No Brasil, é preciso incentivar as iniciativas para a adoção desse conceito, que pode contribuir para reduzir mortes e lesões em decorrência de acidentes”, afirmou o presidente da CNT, Vander Costa.

Mas, de acordo com a confederação, embora haja o entendimento da necessidade de se prepararem as vias para diminuir os efeitos dos erros humanos e já existam algumas iniciativas nesse sentido, o país ainda está muito distante do cenário ideal de aplicação do conceito de “rodovias que perdoam”, cujo propósito é evitar sinistros e mitigar as suas consequências.

O informe da CNT evidencia, por exemplo, uma discrepância entre os gastos com acidentes de trânsito e o montante investido pelo governo federal em adequação e manutenção rodoviárias no ano passado: enquanto as ocorrências demandaram R$ 10,2 bilhões dos cofres públicos, somente R$ 6,7 bilhões foram destinados à prevenção de sinistros e à melhoria das estradas.

A defasagem dos investimentos já havia sido ressaltada pela Pesquisa CNT de Rodovias 2019, que apontou que apenas 11,3% de toda a extensão viária pesquisada (108.863 km) apresentava dispositivos de proteção contínua (defensas) em todo o percurso.

“A comparação dos dados evidencia que os benefícios decorrentes da redução de acidentes não apenas seriam superiores aos custos de implantação do conceito de rodovias que perdoam, mas também amplamente justificados. E, por mais que uma parte significativa dos acidentes seja motivada pelo componente humano, os dados destacam que falhas na estrutura viária têm o potencial de agravar as consequências”, ressaltou a entidade.

Demanda por mudanças

As rodovias que perdoam são aquelas cuja infraestrutura é adequada aos equívocos de condução dos motoristas a fim de se evitar que os acidentes ocorram e de diminuir a gravidade daqueles que não puderem ser evitados, “perdoando o erro” e contribuindo para a segurança de todos os usuários. “Os seus elementos advertem o condutor para que corrija um comportamento ou reaja em conformidade a um risco, redirecionam suavemente os veículos que eventualmente saiam da via ou permitem largura suficiente de áreas de escape para que o condutor possa manter o controle de parada nas situações de risco”, completou a CNT.

O conceito foi colocado em prática pela primeira vez na década de 60, na Holanda, que registrava um número altíssimo de fatalidades nas rodovias naquela época. Algumas das medidas inicialmente adotadas foram a ampliação da largura das vias e a definição de traçados mais retilíneos. Mais tarde, os Estados Unidos também aderiram à proposta. Além de implantarem mudanças, ambos os países incentivaram o aperfeiçoamento das tecnologias de segurança nos veículos e a reeducação dos motoristas.

No Brasil, a concepção das rodovias que perdoam foi incorporada pela norma ABNT NBR 15.486, publicada em 2007 e revisada em 2016.

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