Trapaça ambiental

Motoristas e transportadores burlam a legislação ao não utilizarem Arla 32 nos veículos. Alguns optam por reagentes de fabricação caseira, comprometendo a qualidade do ar e até o funcionamento dos motores.

Meio Ambiente / 14 de Fevereiro de 2017 / 0 Comentários
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A utilização do Agente Redutor Líquido de Óxido de Nitrogênio Automotivo (Arla) em veículos de carga com sistema de Catalisadores de Redução Seletiva (CRS) é obrigatória desde 2012 no Brasil, conforme estabelecido por uma norma do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Pouco mais de quatro anos depois, no entanto, quase metade da frota que deveria atender à exigência está, na verdade, descumprindo-a.

Levantamento feito pela Associação dos Fabricantes de Equipamentos para Controle de Emissões Veiculares da América do Sul (Afeevas) mostra que, em outubro do ano passado, o uso do reagente químico à base de ureia estava 48% abaixo do esperado, considerando-se que a demanda pelo Arla 32 deveria acompanhar a do diesel S-10. De acordo com o gráfico acima, as curvas têm se distanciado, e esse movimento divergente preocupa o mercado.

Segundo o diretor-adjunto da Afeevas, Elcio Luiz Farah, os dados da associação podem apresentar uma pequena margem de erro, o que não mitiga os efeitos nocivos da emissão de poluentes na atmosfera. “Acima de 20% da não utilização do Arla 32 é prejuízo total. Além de não ganharmos nada, perdemos muito. Mesmo que o déficit não seja superior a 40%, seja de 30%, por exemplo, é muita coisa, é uma emissão significativa”, explica.

Na avaliação de Farah, uma das razões para a burla da legislação é a questão econômica. De acordo com ele, as pessoas querem evitar despesas – o reagente custa caro – e acabam comprometendo a fase P7 do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), do Conselho Nacional do Meio Ambiente. “Existem duas classes de fraudes. Uma delas é não usar o produto, burlando o sistema. Outra é utilizar um produto inadequado, que prejudica o meio ambiente e o veículo também. Por isso, o Arla 32 é certificado pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), o que garante que ele atenda às exigências”, reforça Farah.

Segundo a diretora da Federação das Empresas do Transporte de Cargas do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), Juliana Martins, a falta de fiscalização é um fator que contribui para a abdicação dos transportadores. Muitos deles aproveitam essa brecha para utilizar um tipo de Arla caseiro, produzido a partir do reaproveitamento da água da chuva acrescida de ureia animal. “O veículo até aceita essa mistura, mas, em longo prazo, ele apresenta problemas. Essa manobra inclusive ocasiona perda da garantia nas concessionárias”, salienta.

Elcio Farah reafirma a deficiência da fiscalização no Brasil. Conforme é destacado por ele, atualmente, apenas o Ibama e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) se encarregam de verificar a utilização do Arla 32 nos veículos em que o reagente é obrigatório, o que ele considera “insignificante”. “É importante que isso seja estendido para demais polícias e agentes ambientais. Só assim vamos conseguir reduzir a burla do sistema e a poluição do ar e deixar os veículos em condições ideais”, diz ele.

 Alternativa fraudulenta

A demanda enfraquecida pelo produto tem causado prejuízos também a quem apostou na comercialização dele. Juliana Martins, que é diretora de uma Transportadora-Revendedora-Retalhista (TRR) em Betim, conta que a empresa investiu em tanques de armazenamento, carregamento automatizado e caminhões especializados apostando em uma grande procura pelo Arla 32, mas não foi o que aconteceu.

“Deixamos de vender o reagente e tivemos de aproveitar os veículos para o transporte comum de combustíveis. O equipamento comprado está sendo utilizado para outras finalidades, e o Arla 32 agora serve para consumo próprio, e não mais para revenda. Realmente, (a procura) ficou muito abaixo da expectativa”, afirma.

 Destaque negativo

Embora a Afeevas não disponibilize dados regionalizados, Minas Gerais destaca-se negativamente quanto ao emprego do Arla 32. Segundo Farah, o Sudeste do país apresenta um déficit maior do que as outras regiões brasileiras justamente por concentrar a maior malha rodoviária e pelo fato de o grande tráfego passar por aqui.

De acordo com a associação, “caso o veículo utilize produto pirata, emulador ou ‘chip paraguaio’, além de haver a possibilidade de o caminhão ser retido pelas autoridades policiais, a ação configura crime ambiental e pode gerar multa ao transportador ou ao motorista”.

 

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