Uma doença à flor da pele

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Saúde / 03 de Novembro de 2015 / 0 Comentários
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Psoríase atinge entre 2% e 3% da população mundial e é agravada em situações de estresse

Vinte e nove de outubro é lembrado como o Dia Nacional e Mundial da Psoríase. A doença, que aparece na pele, o órgão mais extenso do corpo humano, atinge de 2% a 3% da população mundial. O principal sintoma é a presença de manchas avermelhadas com escamas esbranquiçadas – se a escama for muito espessa, ela poderá apresentar um aspecto prateado.
Sem cura e não contagiosa, a patologia pode interferir na vida de quem a possui.
Segundo a dermatologista Juliana Milagres Macedo Pereira, a psoríase influencia a autoestima do paciente, principalmente nos casos mais graves. Há lesões mais leves e localizadas, mas elas também podem ser distribuídas por todo o corpo, comprometendo as articulações. “Com o diagnóstico, há muito a se fazer para melhorar a qualidade de vida do paciente. O tratamento principal é muito individualizado. Se o paciente tem uma lesão leve, normalmente, ela é tratada somente com medicamento utópico. Se tem a doença moderada, o tratamento é feito com a hidratação da pele associada à terapia de banho de luz – uma emissão de radiação. Se o paciente apresenta um quadro muito grave, extenso, introduzimos alguns medicamentos via oral”, explica a dermatologista.

Como a psoríase é uma doença imunológica, não há formas de prevenção. Por isso, aparecendo qualquer lesão na pele, a pessoa deve procurar um dermatologista para realizar um diagnóstico. Porém, pessoas com um histórico familiar da doença têm mais propensão a desenvolver a patologia.


ACOMPANHE A ENTREVISTA COM A PSICÓLOGA E MESTRANDA A.C.M, DE 38 ANOS, QUE
TEM PSORÍASE E PREFERIU NÃO REVELAR SEU NOME

Entrevias - Quando a psoríase foi diagnosticada em você? Como lidou com isso no princípio? Quais partes do corpo foram mais afetadas?
A.C.M - Eu estava com 21 anos quando surgiram os primeiros sinais da doença. O diagnóstico correto demorou, pois os médicos atribuíam os sintomas a uma dermatite de contato. Consultei três dermatologistas até ter a psoríase diagnosticada. Na verdade, apesar da difícil notícia, foi um alívio saber do que se tratava. Inicialmente, a doença afetou os dedos das mãos e as unhas (psoríase subungueal). Atualmente, tenho lesões nos cotovelos, nas palmas das mãos e nos pés, o tipo palmo-plantar.

EV - Quais limitações a doença traz?
A.C.M - O maior problema enfrentado pelo portador de psoríase é o preconceito. Por desconhecimento, muitas pessoas evitam o contato com o doente por julgarem que a doença é contagiosa. Já ouvi casos em que a pessoa com psoríase evita sair de casa, outras entram em quadro depressivo; isso afeta a qualidade de vida. Há quadros mais graves, como a artrite psoriática, e os que acometem quase todo o corpo do paciente. No meu caso, o comprometimento é mais estético do que funcional. Mas já houve vezes em que tive dificuldade para caminhar por conta das lesões nos pés.

EV - Em que situações a psoríase se agrava?
A.C.M - A psoríase é extremamente relacionada ao estresse. Percebo que, nos períodos em que estou ansiosa, por exemplo, as lesões aumentam. Curiosamente, "agradeço" à doença esse fator, pois foi graças a ela que mudei minha profissão. Eu era professora e vivia uma rotina estressante, com pesada carga horária. Um colega havia lido sobre a importância de os portadores de psoríase se submeterem à psicoterapia, que é reconhecidamente eficaz no tratamento da doença. Encantei-me pela profissão e, após dois anos, decidi trocar o magistério pela psicologia. Outros fatores que favorecem as crises são as baixas temperaturas (minhas lesões pioram bastante no inverno) e, pelo que li, a ingestão de bebidas alcoólicas. Mas eu tomo vinho mesmo assim.

EV - De qual tratamento você faz uso hoje?
A.C.M - A psoríase é uma doença autoimune e crônica. Portanto, não tem cura. Convivo
com ela há mais de 15 anos. Passei três anos sem sintomas e sem crise. Um dia, a doença
rescindiu, e, desde então, não fico um mês sem manifestações. Há cerca de seis meses, tive
uma piora no quadro – as lesões aumentaram e surgiram outras nas mãos e nos cotovelos.
Procurei um especialista no assunto e iniciei o tratamento com a acitretina. A melhora
foi evidente! A desvantagem é que, por se tratar de um medicamento teratogênico, ou
seja, que produz danos ao embrião, eu tenho que me submeter, com certa frequência, a
testes de gravidez para adquirir o remédio (deve-se esperar, no mínimo, três anos após a
interrupção do tratamento para engravidar). Trata-se de uma medicação cara e de difícil
acesso (eu moro no Rio e consigo comprá-la apenas em uma farmácia de São Paulo).
Mas, até encontrar o profissional e o remédio corretos, foi uma luta. A maioria dos médicos
prescreve corticoide. Passei anos me tratando com ele. O problema é que, aparentemente,
o aspecto da pele melhora, mas, a longo prazo, os efeitos colaterais não compensam, são
muito prejudiciais. Eu sofri o temido "efeito rebote" há alguns anos – a cada vez que surgiam
as lesões, eu lançava mão de uma famosa pomada usada no tratamento de psoríase,
com bastante corticoide. Um dia, a aparência da pele piorou consideravelmente e as lesões
aumentaram. Quanto mais eu usava a pomada, pior ficava o estado da pele. Os dedos das
mãos sangravam; foi bem difícil e doloroso. Isso ocorreu pelo uso contínuo (e indiscriminado)
da substância. Com o tempo, minha pele foi ficando tão fina e "cortada" que não era
possível coletar minha impressão digital. A boa notícia é que novas pesquisas vêm sendo
desenvolvidas para oferecer ao portador da doença tratamentos mais modernos e eficazes.

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