Uma gestão de desafios e crescimento

Há quase uma década na presidência da Cotracargem, Geraldo de Souza Marques fala sobre a experiência no comando da instituição, os desafios enfrentados e as perspectivas para os próximos anos

Entrevista / 27 de Agosto de 2021 / 0 Comentários
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São oito anos à frente da Cooperativa Mista de Transporte de Cargas, Passageiros e Consumo do Estado de Minas Gerais (Cotracargem). De lá para cá, o faturamento, o número de funcionários e associados e os desafios aumentaram, e ainda há muito que ser feito. Nesta edição da Entrevias, conversamos com o presidente da instituição, Geraldo de Souza Marques.

Aos 59 anos, ele é casado, tem dois filhos e uma neta. Marques já foi mecânico e, quando comprou um caminhão, tornou-se um cooperado da Cotracargem. Depois, seguiu para o conselho fiscal da cooperativa. Ele tem fama de ser um “excelente administrador”, e foi justamente essa habilidade que o levou à presidência da entidade.

Desde a fundação, em 1996, a instituição havia sido presidida por José Carneiro, morto, em 2013, em um acidente na BR-040, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, quando voltava para casa. Carneiro tinha acabado de ganhar a eleição para presidir a cooperativa até 2016. Após a fatalidade, a diretoria decidiu realizar um novo pleito, e Marques se candidatou. Ao lado de Cláudio Geovane, diretor-financeiro e seu braço direito no empreendimento, ele assumiu a cooperativa com o desafio de promover o seu crescimento.

Como é a sua história com a Cotracargem?

Estou à frente da cooperativa desde 2013. O José Carneiro faleceu em janeiro daquele ano, logo após a eleição que o manteria na presidência até 2016. O João Gonçalves era o vice dele e convocou novas eleições. Entrei como candidato e ganhei. Eu já era cooperado naquela época, tinha sido conselheiro fiscal e estava sempre aqui ajudando o José Carneiro. Eu tinha carretas e traçados, e o José sempre me consultava a respeito desse segmento. Eu era um cooperado bem ativo. Em 2016, tivemos outra votação, desta vez com chapa única, e, em 2020, mais uma. Venci todas elas. Agora, fico pelo menos até 2024, quando teremos um novo pleito.

Quando assumiu a presidência, quais eram os seus planos à frente da cooperativa?

Foi tudo muito repentino. Nossa intenção era continuar o trabalho do José Carneiro. A situação financeira não era boa, havíamos perdido alguns contratos grandes. Atuávamos 80% com traçado e 20% com carreta. Nosso primeiro passo foi entender qual era a situação e quais eram os problemas. Começamos a reestruturar a parte organizacional da cooperativa de dentro para fora. Precisávamos captar novos clientes porque havíamos perdido um contrato grande no traçado e, na área de carreta de minério, ainda estávamos engatinhando. Então, sentamos e fomos ver o que tínhamos que fazer. Fizemos ajustes de abastecimento, cooperados, prazos de pagamento, pedimos ajuda em banco e trabalhamos para diminuir o prazo de repasse para os cooperados e conseguir crescer na área. Extinguimos a filial de Betim porque não tínhamos estrutura para mantê-la, e, então, escolhemos onde queríamos crescer.

Qual é o trabalho desempenhado pela cooperativa hoje?

Temos outros clientes, mais cooperados, e o resultado está positivo. A gente abriu uma filial em Congonhas do Campo para atender melhor as carretas de minério, e nossa matriz continua no [bairro] Jardim Canadá, em Nova Lima. No ano passado, conseguimos realizar um sonho do José Carneiro, que era abrir um posto de combustíveis para os cooperados. Como a cooperativa é de transporte e consumo, temos peças de caminhões a preço de custo. A situação financeira melhorou bastante. Compramos recentemente um lote para fazer nossa sede em Congonhas do Campo porque nossa filial lá é alugada. Em 2020, passamos de 15 para 28 funcionários. Temos sete pessoas na diretoria-executiva, e todas são muito atuantes.

Qual o tamanho da Cotracargem?

Temos entre 350 e 450 cooperados rodando todo mês e 35 clientes. Em 2013, tivemos uma média de faturamento de R$ 2 milhões. Agora, a média é de R$ 10 milhões a R$ 12 milhões. Trabalhamos, por exemplo, com transporte de minério e derivados, sucata e ferro gusa, e fazemos coleta de lixo para Belo Horizonte.

Como é composta a equipe?

Somos 28 funcionários e na, diretoria, estamos eu, o Ronaldo Oliveira, que é o vice-presidente; o Cláudio Geovane, diretor financeiro; o Hendley Ozanam, diretor comercial; e o Jairo Fernandes, diretor-secretário. Eu agradeço a todas as pessoas que estão comigo na cooperativa, à Sheila e a todos os funcionários. São todos muito importantes para o trabalho com os clientes e os cooperados.

Que tipo de treinamento vocês oferecem?

Fazemos treinamentos nas áreas de saúde, segurança, comportamento e legislação. Temos tentado investir mais nessa questão e trazer o motorista para uma reciclagem. Nem todo motorista é um cooperado. Alguns cooperados têm mais de um caminhão. Portanto, há mais de um motorista.

Quais os principais desafios enfrentados em 2020?

Durante a pandemia, não tivemos queda no faturamento e ficamos bem atentos ao controle da circulação de pessoas. Fizemos parcerias com empresas para conseguir doações de máscaras e álcool em gel para os motoristas. Os treinamentos passaram a ser on-line e conscientizamos sobre a prevenção [contra o novo coronavírus] em todos eles. Mas nosso maior desafio ainda é interno: cuidar mais dos nossos funcionários. Sou bastante focado no comercial, no crescimento, então, agora, preciso também direcionar ações para os recursos humanos da cooperativa. É cuidar do nosso funcionário para ele cuidar bem dos outros.

Como está o mercado hoje e quais as perspectivas?

Uma das maiores dificuldades que temos enfrentado é o preço do combustível e das peças. Um pneu que antes custava R$ 1.800 hoje custa R$ 2.500. O combustível ainda conseguimos repassar por um bom valor, mas os insumos ninguém considera, e eles ficam muito caros para o cooperado e para o caminhoneiro. Além de tudo ter encarecido, o transportador tem o custo adicional para manter o caminhão rodando. As exigências das empresas para manutenção e segurança têm crescido cada dia mais. Acredito que prestação de serviço e trabalho não vão faltar. Passamos a pandemia sem sofrer redução de faturamento, mas houve queda no rendimento do cooperado, e isso preocupa. Se em uma viagem ele ganhava 30%, hoje sobram 20%. Nossos cooperados são muito presentes, e estou sempre pontuando o assunto da administração do negócio com eles: ensino a fazer os cálculos de combustível e frete e vamos tentando contornar.

Qual o benefício de ser um cooperado?

A vantagem é a oportunidade, o acesso a grandes empresas. O cooperado que tem um ou dois caminhões dificilmente consegue entrar em uma licitação e cumprir as exigências, tanto fiscais quanto de segurança e saúde. A cooperativa trata de tudo isso para ele: gestão de tíquetes, logística, agendamento de carga e descarga com aplicativo, pessoas capacitadas nos sistemas usados nas empresas, ajuda do financeiro, consumo de peças mais baratas e combustível por um preço menor. Muitas vezes, o motorista precisa trocar uma peça e não tem dinheiro na hora. A gente desconta do faturamento, e ele paga com o que rodar. O cooperado tem mais facilidade para ter acesso às novas frentes de serviço, o que sozinho ele não conseguiria. Nosso cooperado é um sócio: o que é melhor para todos é melhor para ele.

E, para o cliente, quais as vantagens de contratar por meio da cooperativa?

O cliente não tem limite de frota. A adesão é livre, de acordo com a demanda. Temos mais caminhões para atendê-lo e conseguimos fazer aportes rápidos se ele precisar. E tem o lado social. São muitas histórias por trás de cada cooperado. A prestação de serviço que ele pode solicitar é ilimitada e a qualidade também, porque estamos tratando diretamente com os donos, que são os cooperados. O cuidado dele com o serviço é muito maior.

O que é necessário faz para ser um cooperado da Cotracargem?

Atualmente, faço uma entrevista, vejo que tipo de caminhão a pessoa tem, a região em que ela atua e o tamanho da frota. Depois, analiso e vejo se há uma demanda local para esse tipo de veículo. O cooperado precisa apresentar os documentos pessoais e um seguro para terceiros, porque, se ele causar um dano a serviço da cooperativa, o atingido pode requerer algum direito e a instituição, ser acionada como corresponsável. A gente também faz essa apólice com um valor melhor. É necessário apresentar exame médico, atestado de saúde ocupacional, exame toxicológico e, claro, a habilitação na categoria em que for dirigir. Além disso, é preciso ter conta bancária para os pagamentos e ciência das taxas.

Quais são os seus projetos para os próximos anos?

Compramos um terreno para construir a sede em Congonhas do Campo e já estamos pensando nesse projeto com melhorias de estrutura. Nosso time é bem focado no comercial. À medida que vamos crescendo, percebo que o funcionário também quer ver melhorias para ele. Então, queremos nos concentrar nessa proposta agora. Nossos focos são a construção da sede e a ampliação da área de abastecimento.

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