Uma vacina para chamar de nossa

Pesquisadores da UFMG estão desenvolvendo um imunizante 100% brasileiro contra o novo coronavírus. Expectativa é que testes em humanos tenham início ainda em 2021.

Saúde / 31 de Março de 2021 / 0 Comentários
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Até o ano que vem, o Brasil poderá ter o primeiro imunizante nacional contra a Covid-19, desenvolvidopelo Centro de Tecnologia em Vacinas (CT-Vacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O prazo, contudo, depende do sucesso dos trabalhos e da disponibilização dos recursos necessários.

Segundo a professora Ana Paula Fernandes, uma das coordenadoras do CT-Vacinas, uma parceria firmada entre a instituição de ensino e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), no início de fevereiro último, pode ser o catalisador do projeto. Existe ainda a possibilidade de mais parceiros se juntarem à iniciativa, como a Fundação Ezequiel Dias, que já fabrica vacinas no Estado.

Atualmente, a equipe da UFMG se prepara para lançar os estudos clínicos do imunizante de acordo com os parâmetros estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para, então, começar a testá-lo em humanos. “Fizemos testes em animais, inclusive em transgênicos [geneticamente modificados], necessários para esse tipo de análise”, informou Ana Paula, referindo-se a etapas realizadas com camundongos no ano passado, quando foram identificados os antígenos e a melhor composição deles.

A constituição da vacina propriamente dita será definida a partir de testes de toxigenicidade em outros dois modelos, como ratos e coelhos, por exemplo, atendendo às exigências da Anvisa. “Será preparado um lote-piloto para a testagem em animais, que servirá também para humanos. É usada essa formulação para o teste clínico de segurança: inicialmente, imunogenicidade e, depois, o teste de proteção”, adiantou a professora.

Etapas

A expectativa é que, com os devidos investimentos, o estudo evolua para os testes em humanos no segundo semestre deste ano. Até o momento, já foram gastos R$ 5 milhões com a fase inicial do projeto e com as alternativas buscadas pelo CT-Vacinas. Já os testes em animais deverão custar entre R$ 15 milhões e R$ 30 milhões, de acordo com Ana Paula, e as etapas seguintes, ainda mais: em torno de R$ 100 milhões.

A professora da UFMG ressaltou que, embora os valores pareçam muito elevados, são inferiores ao que o país tem gastado com a transferência de tecnologias estrangeiras.

“Esse processo vai ser realmente um marco histórico, que poderá ser replicado em outros processos, para que o Brasil tenha independência nessa área estratégica”, salientou a coordenadora do CT-Vacinas, afirmando que, ao contrário do Instituto Butantan (SP) e do Bio-Manguinhos/Fiocruz (RJ), que estão trazendo tecnologia de fora e produzindo em território nacional, o centro da UFMG está construindo um processo do início ao fim. “Estamos chamando de vacina de raiz ”, completou.

Por ora, tudo indica que a primeira vacina 100% brasileira também precise ser aplicada em duas doses para garantir a imunidade contra o novo coronavírus. No entanto, Ana Paula assegura que ela é muito mais fácil de ser produzida do que a CoronaVac, por exemplo, por não ter um sistema de produção tão complexo, o que faz dela uma alternativa mais simples e viável.

Seguimento

A produção nacional de uma vacina contra a Covid-19 é um passo importante não apenas no momento atual, de agravamento da pandemia no país, mas para o futuro, já que ela provavelmente precisará entrar no calendário regular de imunização, assim como as vacinas contra a Influenza, segundo Ana Paula.

Para a reitora da UFMG, Sandra Almeida, a parceria com o MCTI e com o governo do Estado é fundamental tanto para a continuidade do desenvolvimento do imunizante em questão quanto para o de outros em longo prazo. “Necessitamos, mais do que nunca, de articulação entre as universidades e os órgãos públicos estaduais e federais para garantir um investimento contínuo”, afirmou.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, ressaltou que a vacina desenvolvida nacionalmente é importantíssima para Minas Gerais e para o país, e tem grande relevância para a ciência brasileira. (Com a Agência Brasil)

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