Trânsito letal

Pesquisa mostra que, em 73% dos municípios brasileiros, a violência no trânsito é mais 
letal do que a violência armada

Segurança / 10 de Dezembro de 2024 / 0 Comentários

Um levantamento recente destacou um dado alarmante: em diversas regiões do Brasil, os acidentes de trânsito matam mais do que os homicídios por armas de fogo.

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Um levantamento recente destacou um dado alarmante: em diversas regiões do Brasil, os acidentes de trânsito matam mais do que os homicídios por armas de fogo. O Atlas da Violência 2024, estudo publicado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), evidenciou que, em 73% dos municípios brasileiros, a violência no trânsito é mais letal do que a violência armada.
De acordo com o relatório “Mortalidade no Brasil: um comparativo entre homicídios por armas de fogo e sinistros de trânsito”, do ONSV, em 2022, o Brasil registrou 34.892 mortes em acidentes de trânsito, enquanto os homicídios por arma de fogo somaram 33.580 mortes. Em Estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás, os óbitos no trânsito superam amplamente os causados por armas de fogo. Essa disparidade é ainda mais significativa em cidades menores, onde a falta de fiscalização e infraestrutura adequada amplia o risco de acidentes fatais.
A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) alerta que boa parte dessas mortes poderia ser evitada com ações preventivas. Ricardo Hegele, vice-presidente da entidade, informou que temos no Brasil um óbito no trânsito a cada 15 minutos e um feriado e um sequelado a cada dois minutos. “Para cada óbito no trânsito, é uma média de até dez feridos ou sequelados em relação aos sinistros que acontecem”, afirmou. 
Segundo ele, o trânsito no Brasil é grave em todos os sentidos. “Não podemos falar em conhecer o número total de sinistros de trânsito registrados no Brasil porque a consolidação dos dados atuais ainda é falha. Uma das bases que temos é o Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito (Renaest), que ainda está sendo implantado com a adesão gradual dos Estados, para que se consiga ter uma análise dessas informações”, explicou. 
Fatores como imprudência, excesso de velocidade e uso de substâncias psicoativas por motoristas são apontados como causas predominantes dos acidentes. O Atlas da Violência 2024 também destaca a relação entre o consumo de drogas e a mortalidade no trânsito, ressaltando a importância de campanhas de conscientização e fiscalização mais efetivas.
Capitais como Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre estão entre as grandes cidades onde o trânsito apresenta uma mortalidade maior do que a violência armada. Em regiões menos populosas, como Piauí e Mato Grosso do Sul, a situação é agravada pela carência de políticas voltadas à municipalização do trânsito, conforme exigido pelo Código de Trânsito Brasileiro.
Especialistas sugerem que medidas como a melhoria na educação viária, o investimento em infraestrutura de segurança, a intensificação da fiscalização e a implementação de programas de direção responsável são cruciais para reverter esse cenário. Além disso, campanhas nacionais, como o movimento Maio Amarelo, são ferramentas importantes para sensibilizar a população e engajar gestores públicos na redução de mortes no trânsito.
Segundo a Abramet, o número de pessoas envolvidas no trânsito cresce a cada dia, assim como a frota de veículos. No caso das motocicletas, a situação ainda é mais grave. Dados de 2022 mostram que, nos sinistros relacionado a elas, mais de 12 mil pessoas perderam a vida naquele ano, ou seja, 33 mortes todos os dias no Brasil. 
 
Agenda 2030
A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização Mundial de Saúde (OMS), colocou como meta pra todos os países signatários o esforço para se reduzir em 50% o número de mortos no trânsito até 2030. Segundo Ricardo Hegele, da Abramet, entre 2011 e 2020, considerada a primeira década em que a meta já estava colocada, o Brasil não conseguiu cumprir e, agora, tem trabalhado novamente para reduzir o número de mortes. 

 

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