Dirigir ou não durante a gravidez?

Estudo revela maior incidência de acidentes graves de trânsito após o quarto mês de gestação

Fique de Olho / 05 de Outubro de 2016 / 0 Comentários
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Pesquisa do “Canadian Medical Association Journal” revelou que grávidas têm 42% a mais de chance de envolvimento em acidentes graves de trânsito, risco que é intensificado após o quarto mês de gestação. O grupo de cientistas responsável pelo estudo associou o número ao estado de distração, somado às náuseas, ao cansaço e à ansiedade, fenômenos característicos da gravidez. 

Frase muito comum no Brasil é que gravidez não é doença. Seria mais prudente as gestantes não conduzirem veículos? Segundo o ginecologista e obstetra Renato Augusto Moreira de Sá, diretor da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio de Janeiro, não há necessidade de impedir que as gestantes dirijam, mas ele orienta que elas o façam somente quando for muito necessário. Alguns cuidados são importantes para proteger a gestante, principalmente no início da gestação – quando há mais risco da ocorrência de náuseas, vômitos e desmaios.

De acordo com o obstetra, uma regra básica é nunca a mulher sentar ao volante se não estiver se sentindo bem. Outra sugestão é que ela nunca fique sozinha no veículo. Mesmo uma pessoa que não sabe dirigir pode ser importante para auxiliar se a gestante não se sentir bem ao volante. 

Grávidas que têm problemas com pressão alta ou diabetes também estão mais sujeitas a passar mal e, por isso, deveriam evitar a direção. “À proporção que a gravidez avança e o útero fica maior e mais perto do volante, o risco de que ele seja afetado em caso de acidente é maior. Portanto, no fim da gravidez, o ideal é não dirigir”, adverte.

O ventre da mãe é extremamente seguro para o bebê. O líquido amniótico que o envolve dispersa a pressão em caso de trauma. Aquelas mulheres que possuem o volume de líquido (oligoidramnia) reduzido têm seus bebês mais expostos. No entanto, no fim da gestação, de qualquer maneira, é perigoso por conta da proximidade do volante. O ideal seria não dirigir depois de 36 semanas de gestação. 

Hormônios e atenção alterados

Estudo inédito feito pelo Instituto de Transportes da Virgínia Tech mostrou que dirigir em estado emocional alterado aumenta em quase dez vezes os riscos de colisões. Entre as emoções listadas pelos pesquisadores como as de mais risco estão a raiva, a agitação e a tristeza. E as mulheres grávidas sofrem uma série de mudanças de comportamento/humor durante a gestação, segundo atesta Moreira de Sá.

Conforme ele afirma, qualquer pessoa que esteja com seu humor alterado não deve dirigir. “A direção requer atenção e temperança. Esse conselho serve também para a gestante. Não acredito que as alterações de humor que a grávida apresenta de maneira fisiológica possam ser atribuídas como fator de risco. Possivelmente, é um conjunto de fatores associados. Penso que o estresse, o desconforto abdominal e outros distúrbios da gestação citados anteriormente requerem mais atenção do que a instabilidade do humor”, defende.

A jornalista Michele Ibanez, de 35 anos e mãe de João, de 3, acredita na pesquisa do “Canadian Medical Association Journal”. Ela dirigiu até o último dia de gravidez, mas sentiu sua percepção alterada em vários momentos. “Realmente, quando a gente está grávida, fica muito distraída. Eu senti bastante isso. Parece que você está no mundo da lua. Eu tinha um aplicativo que dizia, a cada semana, o que acontecia na gestação. Bem na semana em que o aplicativo alertou que eu ficaria mais distraída do que o normal eu bati meu carro. Foi no shopping, em um momento de muita desatenção, uma coisa que eu nunca tinha feito. Eu subi no meio-fio, raspei toda a lateral do meu carro num pilar porque eu virei para o lado. Estava desatenta, olhando para alguma coisa. Então, eu acredito que as mulheres grávidas mudam seu comportamento na direção e, sim, podem causar acidentes”, reforça.

“A direção requer atenção e temperança. Esse conselho serve também para a gestante. Não acredito que as alterações de humor que a grávida apresenta de maneira fisiológica possam ser atribuídas como fator de risco. Possivelmente, é um conjunto de fatores associados. Penso que o estresse, o desconforto abdominal e outros distúrbios da gestação citados anteriormente requerem mais atenção do que a instabilidade do humor.”

Renato Augusto Moreira de Sá, médico

 


“Realmente, quando a gente está grávida, fica muito distraída. Eu senti bastante isso. Parece que você está no mundo da lua. Eu tinha um aplicativo que dizia, a cada semana, o que acontecia na gestação. Bem na semana em que o aplicativo alertou que eu ficaria mais distraída do que o normal eu bati meu carro.”

Michele Ibanez, jornalista

Quais cuidados especiais a gestante deve ter ao dirigir?

Conheça as orientações do ginecologista e obstetra Renato Augusto Moreira de Sá:

1
Use cinto de segurança corretamente. As mulheres grávidas devem utilizar o cinto com a parte do ombro posicionada sobre a clavícula (entre o pescoço e a parte superior de seu braço) e a porção ventral colocada sob o abdômen e em toda a parte superior das coxas, o mais baixo possível nos quadris - nunca acima da barriga ou sobre ela. Não se deve pôr o cinto atrás do braço ou em sua parte traseira. A mulher precisa se sentar contra o assento com o mínimo de folga no cinto de segurança. Isso irá minimizar o movimento para frente em um acidente.

2
Sempre que possível, a gestante deve optar para ser um passageiro,
especialmente com a evolução da gestação, quando o útero fica mais perto
do volante. O banco traseiro central é o local mais seguro do veículo,
sobretudo se esse assento tiver um cinto de três pontas.

3
A mulher grávida precisa se manter afastada do volante. Sempre que possível,
deve colocar o banco o mais para trás possível e tentar incliná-lo ligeiramente
para longe do volante. É necessário que ela se posicione pelo menos a 30 cm
a partir do volante e que se certifique de que o volante esteja inclinado
em direção ao peito, e não ao abdômen. Isso permitirá que o airbag funcione corretamente. O banco traseiro central (ou o assento do meio centro em uma van)
é o local mais seguro do veículo. Por isso, se esse assento tiver um cinto
de ombro-colo, essa deverá ser a opção adotada pelas grávidas.

 

 

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